sábado, janeiro 31, 2004

Perdido na tradução

ontem assisti um dos filmes recentes que estava com mais vontade de ver, o novo da Sofia Copolla. gostei bastante. ri bastante também. o meu maior incomodo foi uma pontinha de desconforto ao longo do filme. sei lá, um quê de americanocentrismo, de tudo o que nao é americano é exotico ou ainda 'como esse povo nao se comunica comigo em ingles?'... o incomodo mesmo veio de sentir que isso nao era uma critica do filme, era a estrutura discursiva por tras da narrativa... me parece um arquivo secreto que tem na minha cabeça onde dormem filmes como Telma e Louise e Beleza Americana. Bacanas na embalagem, mas como recheios um pouco indigestos. Para mim, são os filme Leni Reifensthal modernos, very dangerous, men! very dangerous... sei lá, talvez nao tenha traduzido bem...

hoje vi Adeus, Lenin. Pastiche total. como obra, para mim, é somente mediano. de cara, já deixo claro que nao gosto e não pego bem com essa coisa de 'alienação é legal' que rola neste filme, rolou no terrível A vida é bela e até no melhorzinho dos três Kamtchaca (será que escrevi direito?).... tirando isso, ainda sobra alguma coisa, mas é a colagem que de já falei... citações explícitas ao 2001, ao Laranja Mecanica, ao La Douce Vita. Deste ultimo filme tem uma das cenas boas do filme: a do Lenin sobre a cidade, uma interessante releitura do filme do Fellini - e, para mim, onde o Adeus, Lenin poderia ter acabado - e a do encontro do filho com o pai. Interessante: as duas têm em comum a opção pela verdade num filme em que tudo é mentira e alguns constrangimentos - principalmente o desfecho dado para a farsa com um astronauta posando de presidente... Bye bye filme!

continuo a minha maratona no fim de semana...

sexta-feira, janeiro 30, 2004

Delírios de Felicidade

Vc.s não tem noção de como estou ficando viciada nesse blog! Eu entro toda hora, leio, releio e adoro fazer coments. Isso tb. é pq. ando com tempo livre estou sem chefe a vários dias, então tem pouco trabalho apesar da vida estar um tumulto só! Essa minha folga vai acabar segunda e vou ter que aprender a ter mais controle sobre meus impulsos blogais ah ah ah.... Mas isso tb. é culpa de vcs. além de eu gostar dos textos e das polêmicas vc.s ainda ficam me incentivando nesse meu surto de felicidade!!!! Daqui alguns dias eu volto ao normal, tá! Por hora ainda é só love só love...
Balzacas

Isso aqui era pra ser um comentário no último post da Helena, mas resolvi transformar em post também.

Helens, está chegando a crise dos trinta? Então vou contar aqui uma historinha que vai deixar todas as moças muito mal.

Era uma vez, aqui na assessoria onde eu trabalho, um garoto de 17 anos que cuidava da parte de informática. Era um nerdzinho. Havia também uma moça que estava em crise, porque tinha acabado de completar 30 anos.

Um dia, o moleque começa a contar pra ela as aventuras amorosas dele em Guarulhos, e diz que sempre costumava "catar" umas coroas de 28 anos!!! Nessa hora a moça ficou com tanta raiva, que só faltou dar uma voadora no pescoço dele. Fim da história. Hehehehehe...

Na verdade, tudo depende do referencial. Pra um garoto de 17 anos, uma moça de 27 ou 28 já é coroa mesmo, porque os dez anos de diferença equivalem a uns 70% da vida dele.

Já no meu caso, quando fiz 30 anos, fiquei sem saber se podia continuar usando o termo "coroa" pra designar mulheres mais velhas. Foi o único referencial que mudou na minha vida. Também pensei em parar de ler gibis, mas logo mudei de idéia.

Resolvi que coroa pra mim, a essa altura da minha vida, são as de 40 anos. Começo até a achar que é sacanagem chamar as balzaquianas de coroas. Estou solidário a elas, embora eu ainda acredite que a idade é apenas um marco simbólico. Não tem muito a ver com a biologia. Quer dizer, é tudo histeria feminina mesmo. E homem que é homem não tem crise.
Virando a página

Passada a guerra dos Anéis, em que Frodo não destruiu o Um Anel (Frodo=Helena), venho declarar que vou parar de dar chilique. Afinal, isso fica por conta da noiva Lyara e não de mim, uma pacata senhora mãe de 7 gatos (fui chamada de senhora hoje de manhã por um adolescente e senti que a crise dos 30 está se aproximando...)

Vamos continuar com nossas discussões inúteis. Não adianta dizer que vamos parar de nos picar, porque assim tem sido nos últimos 10 anos. E, creio, assim será.

Temos é que comemorar os 10 anos de todas essas histórias, discussões e buscas pelo sentido da vida. Como vai ser?

PS: O próximo que me chamar de totalmente passional vai sentir o peso passional da minha mão, viu Gushiken?!
O AMOR TUDO TRANFORMA

Caros, vocês leram o teor e o tom da declaração de Darlan à Lyara para justificar sua última ausência em mais um aniversário ?
Quem diria.... leva a crer que Sâo Paulo, o apóstolo claro, estava coberto de razão. O tempo não transforma o homem, as dificuldades também não, mas o amor transforma. Que bom !!!!!!
Ele transformou Darlan em pessoa mais doce e mais amiga, e fez um grande amigo praticar a maior contradição intelectual de sua vida para quem dizia que "o amor não existe". Existe sim e hoje embora ele não admita isto publicamente sabe disto.
Quero amar e não sei como. Eu posso aprender qualquer coisa nesta vida mas para aprender isto é preciso entender a importância do que é trancendente à emoção.....
Esta noite, meu coração bateu mais e mais forte e não é uma expressão. É físico. Minhas mãos gelaram e meu corpo foi coberto de um tremor que não era prazer, era vontade de ser abraçado e carinhado.
Então, descobri que algo superior se expressa fisicamente quando nos deparamos com alguém que pode mudar seu jeito de sentir, pensar e até o rumo de sua vida.
E chega de pieguismos.....eu sou hedonista e blasé.. não caí bem para mim esta cena... rs

Beijos,

Márcio Rodrigo

PS - André, você não está deprimido desde de 94.... mas sim desde de 74...hehehehee


Ora pro nóbilis
A cabeça gira... e neste fim de manhã, em que mais uma vez eu estive bem perto de voltar a minha essência, eu preciso e quero me desculpar.
O uso diário da palavra somada à sensação de não existir ninguém te lendo me leva a não ponderar exatamente o peso que algumas declarações podem ter.
Como eu posso falar de passionalidade ? Talvez eu seja no fundo o mais passional entre todos nós. "Nunca te esqueças, que sou dos trópicos"....
Helen, desculpe !!!! Disse nos comentários, mas prefiro dizer aqui mais explicitamente TE AMO e não quero que fiques tristes ou que surjam mágoas entre nós.....(And, não fique com cíumes).
Mas creio que podemos continuar fazendo Picadinho sim André. Estamos estraçalhando (é assim que se grafa ?) emoções e os corações dos leitores...

Márcio Rodrigo

quinta-feira, janeiro 29, 2004

LIBERDADE AINDA QUE TARDIA


Dá série "Dias de Garimpo"....

Minas é a terra onde deveria ser filmado "Um Sonho de Liberdade"...
Primeiro a história da Inconfidência.. verdadeira ou não, entrou para o imaginário da nação a idéia que o desejo de liberdade nasceu aqui....
Depois Tancredo Neves... anos de ditadura e a frustração de se ver enterrar o homem que personificou como poucos a imagem da liberdade no Brasil, no final do século XX.
Hoje passei o dia em São João Del Rei... As Cidades Históricas realizam o milagre de me fazer levantar cedo, mesmo que tenha ido dormir tarde... Estive na Igreja de São Francisco. Não sei se é mais impressionante a construção ou as palmeiras centenárias na frente do templo que são mais altas que suas velhas torres. Lindo ! Atrás, o túmulo de Tancredo....onde tive este insight....

Márcio Rodrigo
Do Principado dos Neves
À Garota de IPanema"

LYARA,

Que dizer ? Não sei, na vida as palavras parecem poucas quase sempre para expressarmos nossos sentimentos...
O clássico então : FELIZ ANIVERSÁRIO !!!!!!!!!
Continue sendo a "garota de Ipanema", abençoada pelo Cristo e agora casada... "ah, não estás mais sozinha... a beleza que é só sua agora passa acompanhada..."
Minha querida, gosto-te muito !!!!!

Márcio Rodrigo
Niver da Ly

Amigos!Como ando numa fase muito egóica! Resolvi colocar aqui no blog. Uma automensagem de feliz aniversário para mim mesma!! Pois é hj. estou ficando mais experiente. Começando uma idade nova. Parabéns para euzinha!
Vale a leitura

Bem, eu ia deixar a questão encerrada, mas não resisto a um gran finale sobre a questão cinematográfica. Leiam a coluna do Contardo Caligaris hoje, na Folha, sobre o embuste "Dogville". Muito interessante saber que, apesar de Lars Von Trier afirmar nunca ter posto suas lindas patinhas nos EUA, um amigo americano do Caligaris afirma tê-lo hospedado lá, em território ianque, e que o mesmo viveu em Los Angeles de 96 a 97.

Desde que fiquei sabendo do filme suspeitei que ele era o que o colunista afirma ser. Uma grande enganação, uma tremenda jogada de marketing. Agora vou até ver essa bomba para ter certeza de minhas suspeitas. Lá se vai meu santo dinheirinho em vão...

De resto, prometo passar a falar sobre gastronomia, Gilberto Freyre e gatos, minhas outras paixões além de cinema. Aliás, Darlan, vc terminou de ler "Casa Grande&Senzala"????

Helena

quarta-feira, janeiro 28, 2004

Senhor de Deus !!!!

Sobre a premiação de "Cidade de Deus" claro que torcerei para que o filme leve uma única estatueta que seja. Como observa Darlan, a quebra de um tabu e o desprendimento definitivo desta fixação que temos por este prêmio ajudará nos rumos que nosso cinema pode tomar.
Mais que isto, a vitória dá munição aos realizadores para conseguirem políticas mais efetivas para o setor em um momento em que o Minc convida a classe para discussão de uma Lei Geral do Audiovisual e a transformação da Ancine em Ancinav. Também estimula que empresas invistam ainda mais no setor cultural que hoje dá mais empregos que a indústria automobilística no Brasil.
As indicações também gerarão polêmicas vindas dos "ressentidos do Cinema Novo". Claro que as "viúvas de Glauber", como a crítica e intelectual Ivana Bentes, dirão que a indicação confirma a estetização da miséria, a estética publicitária do filme e blá, blá, blá....... não vale a pena sequer repassar isto. Fernando Meirelles e equipe são melhores que todas as críticas.
Quanto aos "Anéis" vão se eles, ficam-se os dedos.... sim, eles levarão várias estatuetas e a questão está que na "narrativa " de sempre, o maniqueismo, o escapismo e tudo aquilo que Hollywood aprendeu a fazer para se tornar a maior matriz de ficção do planeta, fabricando, na maioria dos casos, sonhos com lugares alhures e inexistentes .... nada de novo sobre o sol, mas os fãs do "Senhor dos Anéis" não pensam isto claro. Respeito.
Quanto ao fato de serem feitos na Nova Zelândia, hoje existe uma entidade chamada AFCI que hospeda sites de cidades no mundo todo, explicando tudo que cada uma pode oferecer para a realização de uma produção cinematográfica. Largamente utilizada por produtores. Legal que "Os Anéis" tenham eleito a Nova Zelândia.
Anderson em uma de suas respostas me disse algo do tipo que não era um filme hollywoodiano por não ter sido feito nos EUA. Hollywoodiano é um adjetivo que se estende para além das fronteiras geográficas. Serve para designar filmes com narrativas cinematográficas clássicas, montagem bem encadeada, com atos de apresentação, confrontação e resolução, e isto é só a ponta do iceberg quando pensamos numa conceituação do que seja "hollywoodiano".
Carandiru, por exemplo, não foi feito lá, mas é absolutamente hollywoodiano. Chamar a Globo de Hollywood tropical também está correto.....
Há mesmo alguma capacidade de subversão ao sistema em "Senhor dos Anéis" ou "Cidade de Deus" ?
Creio que não. Vivemos o tempo das formas clássicas - que forjam ser inovadoras- que garantem a existência dos produtos culturais. Somos todos vítimas e cúmplices de nossos olhares viciados ....
Sobre Matrix I, concordo com a importância do filme quanto ao progresso nos efeitos especiais. Mas continuo insistindo que teria sido mais impactante se tivesse sido lançado no início da década de 90 e não em seu final, após a "Revolução Informática".

Márcio Rodrigo

terça-feira, janeiro 27, 2004

Nem sempre dois e dois são quatro


Blockbusters nunca ganharam Oscar de melhor filme, muito menos de direção. Steven Spielberg, o inventor dos arrasa-quarteirões com "Tubarão", em 1977, teve que fazer um filme chatérrimo e adulto (A Lista de Schindler) para agradar à preconceituosíssima Academia de Artes Cinematográficas de Los Angeles e ganhar o seu sonhado Oscar de Melhor Diretor e Melhor filme. Filmes estupendos do mesmo diretor como "Os Caçadores da Arca Perdida" e "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" concorreram a essas duas categorias, mas foram solenemente ignorados. "Star Wars" mudou o cinema de ficção, mas sequer foi indicado.

Se no dia 29 de fevereiro a Academia premiar "O Senhor dos Anéis" será muito mais do que aceitar o marketing de um "arrasa-quarteirão". Será a quebra de um tabu. Porque a academia prefere filmes edificantes com pessoas doentes, de preferência, a bons filmes, de fato.

E se "O Senhor dos Anéis" ganhar, será a vitória de um estúdio que era pequeno (a New Line), que teve a coragem de apostar num projeto que ninguém mais queria bancar em Hollywood porque era insano. será a premiação de 7 anos de trabalho integral de um diretor. Será a vitória de um filme rodado inteiramente na Nova Zelândia. Será a vitória de um estúdio de efeitos especiais, a WETTA FILMs, que teve a coragem de peitar George Lucas e dizer "não precisamos de vc". E a vitória de um elenco que dedicou 2 anos de suas carreiras a filmar essas 9 horas de filme.

Sim, será também uma vitória do marketing, do poder do dinheiro, do blockbuster que sustenta a indústria do cinema. Mas quem mais além do marketing, do poder da MIRAMAX (que faz os lobbys mais agressivos possíveis na briga pelo Oscar) levou um filme brasileiro (apesar de muito bom filme) de 2002 a concorrer a 4 estatuetas?

No fundo a Academia é tão preconceituosa quanto os críticos de cinema que a criticam. Vamos ver se ela terá coragem de se contradizer. Apesar de fã, de defender "O Senhor dos Anéis" por suas qualidades até a morte, sou quase capaz de apostar em "Mystic River" como melhor filme - apostaria totalmente se o final do filme nao fosse tão subversivo. Disso a Academia também não gosta.

Mas, se o "O Senhor dos Anéis" não ganhar, pouco importa. O filme é um clássico sim, o tempo dirá. Os críticos combateram ferozmente "Blade Runner" e agora dizem amém para o filme. Combateram "Matrix" e até a intelectualidade vem se voltando agora para o filme, depois que ele mudou toda a estética da ficção cientifica. Assim é a vida.



helena
NOSTRADAMUS ???!!!!

Semana passada e retrasada publiquei por aqui dois posts que funcionaram como verdadeiros vaticínios.
Sobre a seleção brasileira, alguém ainda tem dúvidas que não passavam de um bando de "estrelas fominhas" fazendo, ou tentando, jogadas individuais para aparecerem em campo ? Quantos mascarados. O resultado todos viram e claro somente na segunda a imprensa publicou o óbvio ululante: a seleção era um vexame....
Quanto a "Nabuca do Bótox", enquanto São Paulo comemorava um aniversário virtual em sua área nobre , pessoas eram literalmente arrastadas pelas águas fétidas de enchente na zona leste.... Quanto tempo mais as áreas pobres continuarão sendo maquiadas ? E quanto tempo mais governo, imprensa, empresas demorarão a compreender que Sampa atingiu o limite do insuportável ?
Em breve, se continuarmos neste ritmo literalmente começaram a ocorrer atos de canibalismo em praças públicas, piores do que já assistimos hoje....


Márcio Rodrigo
Má criação

André Amaral - ajudou a formar o Clube do Picadinho gerou a idéia junto com a Helen, depois fez o blog e faz a manutenção mas escrever que é bom nada e nem um comentariozinho.

Fábio Uria - se empolgou muito com o clube, mandou e-mails polêmicos e do alto de sua praticidade de engenheiro conseguiu organizar o primeiro encontro do clube. Mas desde então tem nos ignorado por completo. Não escreveu nem uma vez no blog. A maior desfeita e falta de consideração.

Então agora serei bem malcriada e chantagista. Noiva tem o direito a ter chiliques!!! rs...rs....
Ou vc.s se manifestam ou nunca mais ganham estadia no Rio seus desnaturados!!!
BEST SELLER

Que 50 páginas a mais sobre diegese.... como já tenho um editor interessado, vou é virar um best seller com a análise de "Cidade de Deus"... rs
No ano passado entrevistei Bruno Wainer, presidente da Lumière do Brasil, que tem contrato de distribuição exclusiva dso filme da Miramax por aqui.
Bruno comentou que o presidente da empresa americana não se conformava do filme de Meirelles não ter sido indicado ao Oscar e que o relançaria mesmo que tivesse que investir dinheiro pessoal na empreitada.
O resultado está aí. E parte das minhas considerações sobre o filme estará na minha matéria da página 2 de sexta -feira do Fim de Semana.
Estou feliz com minha percepção, isto sim... sem modéstias, quando troquei o objeto de estudo de meu mestrado não imaginava o quanto oassunto poderia render.... ponto prá mim que vou para a banca de qualificação com este trunfo na manga.
Agora, não vejo nenhuma melhora na Academia. Acredito que por mais bons anos ela continuará premiando mais do mesmo....
Basta olhar as 11 indicações para "O Senhor dos Anéis". Claro que com o término da trilogia, que é um filme só de 9 horas ou mais, torna-se óbvio quem será o "Grande Vencedor do Oscar 2004".... clássico é marketing, pensem nisto independente de suas convicções cinematográficas.
Mais feliz ainda eu fiquei por "Carandiru" não ser indicado. O filme é péssimo e tem problemas gritantes de foco narrativo, como o livro de Varella. O primero Blockbuster premeditado do cinema brasileiro não convenceu....
Cidade de Deus Reloaded

Meirelles declarou-se chocado. "Minha primeira reação foi perguntar se a Academia havia enlouquecido de vez. Um filme em português ser nomeado para Melhor Roteiro Adaptado? Um filme totalmente finalizado no Brasil nomeado para categorias técnicas como edição e fotografia? O que está acontecendo?", disse o diretor (Aliás, eu fui o primeiro a receber a nota dele e colocar no ar!).

Curioso o que uma Miramax é capaz de fazer. Quem não se lembra, Cidade de Deus foi indicado pelo País no anos passado para melhor filme estrangeiro e rejeitado até mesmo para a indicação ao Oscar. Eis que, agora, ele volta com nada menos que quatro indicações.

Se dessa vez não vier a tão sonhada estatueta, não virá mais. Particularmente, aposto que ele vai levar somente a de melhor edição. O que para o cinema nacional já estará de ótimo tamanho. Nos livraremos de um trauma crônico. Ainda que com a ajudinha providencial da Miramax.

Já para o Márcio, deverá render mais umas 50 páginas de análise da "diegese" da chegada do Brasil ao Oscar...
ARCADISMO NA PÓS-MODERNIDADE

Todas as vezes que chego numa cidade histórica mineira é assim...nos primeiros quinze minutos fico imaginando o que farei no tempo infinito que ali permanecerei... após essa sensação vem a de que o tempo será infinitamente curto para descobrir a cidade toda.
Com Tiradentes não está sendo diferente ! Os mineiros mantém em seu silêncio o segredo do bucolismo brasileiro. Aqui, cercado por montanhas e por paredes históricos rompe-se a sensação de claustro e ganha-se a sensação de liberdade... "liberdade, ainda que tardia...."
Minas é uma viagem dentro de mim mesmo... em meu coração-montanha passa um trem ... ele chega para me lembrar que eu ainda oscilo em minhas antíteses, como o barroco vertiginoso e desregrado que aqui se instalou e permanece até hoje.....

Márcio Rodrigo
ARCADISMO NA PÓS-MODERNIDADE

Todas as vezes que chego numa cidade histórica mineira é assim...nos primeiros quinze minutos fico imaginando o que farei no tempo infinito que ali permanecerei... após essa sensação vem a de que o tempo será infinitamente curto para descobrir a cidade toda.
Com Tiradentes não está sendo diferente ! Os mineiros mantém em seu silêncio o segredo do bucolismo brasileiro. Aqui, cercado por montanhas e por paredes históricos rompe-se a sensação de claustro e ganha-se a sensação de liberdade... "liberdade, ainda que tardia...."
Minas é uma viagem dentro de mim mesmo... em meu coração-montanha passa um trem ... ele chega para me lembrar que eu ainda oscilo em minhas antíteses, como o barraco vertiginoso e desregrado que aqui se instalou e permanece até hoje.....

Márcio Rodrigo
E continuam as surpresas...

O ramo de premiações cinematrográficas, no qual sou viciada, está extremamente interessante e surpreendente essa semana. 4 indicações para Cidade de Deus é uma surpresa agradável, que dá sinais positivos de que a Academia enfim anda se rejuvenescendo. Acho que o filme tem excelentes chances de levar o prêmio de edição e algumas boas chances em roteiro adaptado.

E o mala do Minghella, sobre quem comentei ontem, nem foi indicado a melhor diretor. Sensacional.

Helena
ARCADISMO NA PÓS-MODERNIDADE

Todas as vezes que chego numa cidade histórica mineira é assim...nos primeiros quinze minutos fico imaginando o que farei no tempo infinito que ali permanecerei... após essa sensação vem a de que o tempo será infinitamente curto para descobrir a cidade toda.
Com Tiradentes não está sendo diferente ! Os mineiros mantém em seu silêncio o segredo do bucolismo brasileiro. Aqui, cercado por montanhas e por paredes históricos rompe-se a sensação de claustro e ganha-se a sensação de liberdade... "liberdade, ainda que tardia...."
Minas é uma viagem dentro de mim mesmo... em meu coração-montanha passa um trem ... ele chega para me lembrar que eu ainda oscilo em minhas antíteses, como o barraco vertiginoso e desregrado que aqui se instalou e permanece até hoje.....

Márcio Rodrigo

segunda-feira, janeiro 26, 2004

DARLAN, VOCÊ TINHA DÚVIDAS DA RESPOSTA DA LYARA ????
O amor de vocês é uma certeza e mesmo que como todas as verdades esta também possa ser provisória... hoje existe e é fato e é o que basta e importa.
Da Lyara sempre fui um amigo confidente e hoje peço licença para cometer a indiscrição e dizer que ela sempre quis este casamento !!!!!
Olho o relacionamento de vocês e o tenho como modelo ! Se um dia tiver que viver um grande amor quero que seja algo parecido como o de vocês ! Descolado, light e feliz com algumas perturbações, sem as quais não há história mas acima de tudo com grande amizade e cumplicidade entre as partes !
.......
"Grava-me como selo em seu coração,
Como selo em seu braço,
Pois o amor é forte,
É como a morte,
Uma faísca de Deus !"

Luz !!!!!! E muitos anos de relacionamento......

PS - quem será o próximo de nós ????!!!!!




Prazeres da vida

O melhor não é ver um filme fantástico, que vc defende ardorosamente e ama de paixão, ter seus méritos finalmente reconhecidos, sendo indicado a 4 categorias e ganhando as 4, inclusive a de melhor filme. O melhor é ver a cara de pamonha derrotada do Antony Minghela, aquele mala que fez o filme mais poeirento de todos os tempos, "O Paciente Inglês". Afinal, financiado pela Miramax e fazendo um filme sobre a Guerra Civil Americana, o cidadão tinha certeza de que sairia consagrado do Globo de Ouro por mais uma baboseira romântica e melodramática. Não deu. Ele não sabia do que os hobbits são capazes....


Helena

COISA SÉRIA = CASAMENTO

Juro que não escrevo mais nenhuma bobagem neste blog, tipo os meus apuros no trono de apartamento alheio.

Depois que a Lyara e o Darlan tornaram público o enlace nesta página, este espaço virou coisa séria. Senti o clima de festa de casamento ao ver os comentários das famílias. Parece que o mundo começou a se mover, as pessoas saindo do lugar, 2004 começando pra valer. É realmente uma coisa muito forte. Até fiquei envergonhado do meu texto anterior. :-p

Deve ter sido um aviso pr’eu virar adulto de vez. Afinal, sou o menos novo da turma!!! Mas não vou parar de ler gibis dos X-Men.

Ou talvez tudo não passe de uma sensação de que eu estou ficando encalhado mesmo.

sábado, janeiro 24, 2004

NOTÍCIA BOMBÁSTICA

Quem acessou o blog nesses últimos momentos pode presenciar a primeira notícia bombástica da existência do Clube. Claro que o furo foi dado pelo eficiente repórter Darlan Alvarenga, que entende tudo de manchetes e notas para internet, inclusive sabe como aumentar a audiência de uma página. Mas isso não foi foi um golpe para o lançamento desse nosso blog. Foi um pedido real e concreto. Claro que ele só ousou fazer a pergunta pq já adivinhava a resposta. E eu só poderia dizer: SIM!!!!!!
Muitas coisas vão mudar nesses próximos meses e tenho a certeza de que vai ser para melhor.
2004 já está entrando para História!!!

Beijos a todos que compartilham do nosso feliz romance!

sexta-feira, janeiro 23, 2004

A pergunta mais simples e mais difícil que já fiz

Como diz Morpheus, alguma coisas nunca mudam, outras mudam...

Acabo de ser comunicado que foi aceito meu pedido de transferência para o Rio. Em maio estarei partindo para cidade maravilhosa para morar com a minha amanda e realizar o sonho de nossas vidas.

Enfim, como devo em parte a internet essa decisão que irá mudar toda minha vida, vou usá-la para fazer a pergunta fatal que todo homem um dia há de fazer:

Lyara, quer que eu ame mais de perto pelos próximos incertos dias de nossas vidas?
Vida na Privada

Não sei o que fiz de mal pra Deus, mas esta semana estou com meu estômago fazendo revoluções desde quarta-feira. Já não aguento mais.

O pior é que ontem tive de ir numa recepção a uma colega gaúcha tri-louca, a Bárbara, que pediu demissão do trabalho há um ano e se engajou em causas sociais. Nesse tempo, ela passou pelo Fórum Social das Àguas e pelo Greenpeace lá em Manaus. Agora está de passagem por Sampa, a caminho dos pampas pra ter um nenê. Isso mesmo, ela está grávida de cinco meses. O marido continua em Manaus, o holandês Frank. Gente boa ele.

Mas o fato é que ontem eu fui vê-la e dar lhe um abraço, mas com o estômago parecendo uma máquina de lavar roupa. Girava pra um lado e pro outro. Detalhe, só tinha eu de homem lá e umas dez mulheres, porque era tipo um chá de bebê. Depois de umas duas horas chegou mais um homen, meu colega de trabalho Uilson, também gaúcho e amigo da Bárbara desde os tempos de Zero Hora deles. Isso foi há uns dez anos.

Bom, voltando ao meu drama, eu precisava ir ao banheiro urgente, desde a hora que eu tinha chegado no apê do chá de bebê, mas fiquei com muita vegonha. Quando reparei que todas as moças estavam ali conversando na sala, sem se levantar há um tempão, dei aquela sumidinha estratégica.

Mas parece que justo quando eu estou no trono, todo mundo decide usar o banheiro. Primeiro ouvi vozes se aproximando, depois alguém tentou abrir a aporta e disse: "Ôou, acho que tem gente". Depois mais alguém tentou entrar e forçou a maçaneta. Como o único banheiro do apartamento ficava dentro do quarto, as pessoas não saiam do recinto, ficavam lá, conversando.

Quando eu saí, tinha uma fila na porta.

Moral da história é a seguinte: perdi a vergonha de usar o banheiro na casa dos outros.

quinta-feira, janeiro 22, 2004

Enquanto isto in Dryfish Ville,

Jardim da Babilônia cercada pelas Torres de Babel

Nossa "Nabuca du Bótox" acaba de ganhar palácio novo, com jardim suspenso...
Ela que adora paisagismo, é só olhar as palmeiras novas da Faria Lima, in front of Iguatemi, também tem direito ao seu jardinzinho...
Sua nova sala do trono tem laços afetivos e familares passados. Enquanto seu ex-príncipe consorte ( e sem cabelos) agora é só o Filó da mamãe ela reina soberana passando bótox nas áreas nobres da pólis...
Uma gracinha, senão fossem os moradores bárbaros que insistem em morar nas Torres de Babel desta Babilônia....e reinvindicar saúde, transporte, educação..
Gente chata... há lindo céu na perferia, com direito a lagoa azul.... prá que pensar no pão se há brioches, né ?!!!
Enquanto isto a "imperadora" desfila feliz e com ares de "mulheres apaixonadas" com sua rica prenda francesa pela cidade... resquícios de galecismo herdado da elite cafeeira, na época em que falar com biquinhos -antes do pilling - era chic....
Em tempo, cada Babilônia tem o Pão de Açúcar que merece.... o do Rio´todos sabem a maravilha... em Sampa a nova fonte que lembra a logomarca do homônimo supermercado no lago do Ibirapuera é de amargar... Agora somos um Rio completo... na praia do paulista temos vários pães de açúcar....mais

Márcio Rodrigo

quarta-feira, janeiro 21, 2004

450 o que mesmo ?

Não suporto mais ouvir falar dos 450 anos de Sâo Paulo.
Depois de vários livros sobre o assunto e uma série de entrevistas para uma matéria sobre o patrimônio ambiental e urbana desta cidade ouvi de uma figurã oficial que São Paulo tem apenas 100 anos.. rs .
Constatação óbvia ! A cidade não passava de um vilarejo perdido nos seus primeiros 300 anos de existência e hoje foi promovida a algo como megálopole perdida e desgovernada !
Adoro Caetano mas vai ser foda ele e seu sotaque baiano para cantar "Sampa" a 0:00 do dia 25 naquele esquina mais que decadente da Ipiranga com São João.
Felizmente estarei em Tiradentes na Mostra de Cinema .
Precisamos repensar São Paulo. Volto a defender a tese que isto aqui é como cocaína depois que você vicia: você sabe que faz mal mas continua.....

Márcio Rodrigo

terça-feira, janeiro 20, 2004

Vocês confiariam num goleiro chamado Márcio Pintinho?

Antes de mais nada, não se trata de uma provocação para o ilustre membro deste clube.

Este é um dos achados na infinita lista de notícias do iG. O crédito é do meu amigo de redação, Pietro. Trata-se do caçula do time Oeste, de Itápolis, que poderá ser uma das novas estrelas do Paulistão. André, veja que ótima pauta:

"O goleiro Márcio Pintinho continua no Departamento Médico por conta de uma dor na região do pubis, mas garante que sua recuperação está sendo ótima. Pintinho foi um dos heróis das conquistas do Oeste nos anos de 2002 e 2003, quando suas defesas magnificas colaboraram para que o time de Itápolis conquistasse os campeonatos dos referidos anos.

Pintinho tambem é grande conhecido dos Palmeirenses, dado o fato de seu time, na época, o Asa de Arapiraca, ter eliminado o time do Parque Antarctica na Copa do Brasi, quando foi considerado o melhor jogador em campo nas partidas de ida e volta apos ter fechado o gol".

Já até imagino uma foto sensual com o goleirão com um saco de gelo na região do pubis...
Minha primeira vez com uma garota...

Estávamos as duas nervosas. Fomos no meu carro pq. ela morre de vergonha. Tudo bem eu tb. estava ansiosa, mas meu espírito livre não me permite ficar muito envergonhada. Pricipalmente de algo que diz respeito apenas a mim a a outra pessoa envolvida, nesse caso uma amiga. A sugestão, convite ou insinuação sei lá... partiu dela, que logo em seguida quis voltar atrás mais aí eu já tinha me empolgado e a situação pedia algo do gênero. Tivemos que seguir em frente. Saímos juntas do trabalho como acontece várias vezes por semana, mas como estávamos impregnadas de intenção ilícita ela quase se enfiou debaixo do banco. Risinhos nervosos e desconforto. Mas só até tudo estar consumado. Depois que entramos não tinha mais volta. Achei muita graça na situação toda. Mas no final o objetivo foi atingido saímos de lá muito melhor do que tínhamos entrado e ganhamos tempo e tranquilidade. Muito melhor essa alternativa a ter que atravessar a cidade encarando todo trânsito de sexta-feira só para trocar de roupa para um baile de formatura! Outro acrécimo para o currículo de motéis, além da companhia feminina, pagamos a conta no quarto!!!! Alguém já passou por isso??? Coisa de cariocas... Saímos de lindas, maravilhosas prontas para festa!

segunda-feira, janeiro 19, 2004

A Casa do Jesus Ditoso e o Evangelho segundo os Budas

Estranho esssa aproximação entre duas peças aparentemente tão díspares em cartaz em São Paulo. Mas a comparação após assistí-las surge quase que de maniera inevitável.
Tanto a "overdose" de sexo da protagonista sexagenária dos Budas Ditosos quanto o orgulho e vaidade desmedidos de Deus em "O Evangelho" nos leva a crer que todos os pecados capitais vêm atrelados uns aos outros e nascem do excesso.
Como diz a personagem de Ubaldo no final: " Não, não posso ser acusada de luxúria já que fiz sexo não contrariando minha natureza mas apenas para atender minhas necessidades". À mesma maneira quando Deus diz ao Diabo na peça inspirada em Saramago "Para que eu seja o BEM absoluto alguém tem que continuar sendo Mal...". De onde encontramos no meio da dicotomia e dos pecados a dialética de viver. No centro de tudo, a tudo atribuindo significado e querendo dar sempre sentido à vida o Homem. Em ambos os espetáculos esta figura é fundamental.
Em "O Evangelho" se desfaz a figura do Cristo mítico para trazê-lo a cena com medos e dúvidas... Cristo é capaz de amar carnalmente Maria Madalena e quando a senhora baiana surge para relatar sua vida promíscua por opção parece que estamos diante à Maria Madalena após a morte de Cristo relatando sua vida... há inclusive o relacionamento de um irmão, que ela tanto deseja e elege como o mais importante relacionamento de sua vida. Incesto ? Não, metáfora....pois afinal, como escreveu um dia Clarice Lispector "havia descobrto que era mais fácil ser um santo do que ser um homem..."
Expressão do Desejo de todos, independente dos "evangelhos" e "dogmas" que seguem de sermos ditosos !

Márcio Rodrigo

sexta-feira, janeiro 16, 2004

Lá vai ela...

Bem, agora estou de partida! Vou deixar a cidade maravilhosa e subserviente e amanhã estarei na terra da uva. Confirmo minha presença em nosso convescote de domingo, aí na terra da garoa. E é só! Não dá para escrever algo muito inteligente pq tem faltado inspiração! Mas ando me divertindo com esse blog. É bom encontrar vc.s virtualmente!

Beijocas
De novo, o sentido da vida...

"O que entendemos por 'sentido da vida'? Algo próximo tanto da logoterapia, que se apóia na teoria do vazio existencial (esta proximidade me interessa, porque estou convencido de que a perda do sentido da vida pelo homem gera patologias psíquicas), quanto daqueles conteúdos que motivam o agir do homem, dando-lhe um sentido de satisfação de tarefa cumprida, se o resultado de sua atividade for positivo. Como vemos, o significado é muito simples e não tem nada em comum com a especulação filosófica. No entanto, nele estão envolvidas importantes questões da vida humana, como nos revela a psiquiatria moderna. Um sentido da vida interiorizado pelo homem é para ele um valor positivo, o que pode ser até decisivo para o seu bem-estar psíquico."
SCHAFF, A. A Sociedade Informática. São Paulo: Editoras Unesp e Brasiliense, 1985. Página 116.

Ah!, comi arroz, feijão, salada de rúcula e salsicha com molho. Estou feliz hoje.
:-)
Caros,

Segue o texto sobre cinema que escrevi pa esta edição do Fim de Semana.
Antes que me estrangulem, pessoalemente não gosto dos filmes de Sganzerla.

Márcio

O caos feito de luz
São Paulo, 16 de Janeiro de 2004 - D o primeiro ao último filme de sua carreira, o cineasta catarinense Rogério Sganzerla, falecido no último dia 9, não fez concessões estéticas ou éticas às mudanças ocorridas na produção fílmica brasileira ao longo dos últimos 35 anos. A transição lenta da ditadura para a democracia não "afetou" Sganzerla, que criou uma maneira mais que peculiar para expressar suas intenções por meio da película.

O diretor estreou na direção de longas com o clássico "O Bandido da Luz Vermelha", de 1968, pouco antes da promulgação do AI-5, naquele mesmo ano. O filme, que se passa em São Paulo - é inspirado na história do assaltante Acácio Pereira da Costa, que conversava e seduzia as donas das residências que atacava - chegou provocando debates, ironias e rupturas no meio cinematográfico brasileiro de então.

Sganzerla foi o primeiro diretor a tratar a figura do marginalizado, tão cara ao Cinema Novo, não somente como vítima, mas também como algoz, ambientando sua história em uma metrópole, onde promove pela ficção o "contato" dos desfavorecidos com a classe média.

Glauber, que desde a publicação do manifesto "Estética da Fome", em 1965, havia definido um "padrão" estético para o cinema no Brasil, denominou pejorativamente "O Bandido" de "Udigrudi", corruptela para o termo inglês "underground". Como observa o crítico de cinema Amir Labaki, a intenção de Sganzerla era "tirar o cinema brasileiro da seara dos dramas sociais do Cinema Novo, de inspiração européia e restitui-lo à influência americana: leve, popular, coloquial, mas nem por isso menos inventivo, crítico, profundo."

O filme era mesmo muito avançado para a época em que foi produzido. Com cortes secos, interpretação quase naturalista e inspirado em trabalhos de cineastas como Orson Welles e Godard, herdava do Cinema Novo sua "câmera na mão", que perambulava rápida, mas não usa aspirações e intenções políticas diretas. Aí reside o grande paradoxo de Sganzerla, que apesar de suas preocupações sociais em sua estréia em longa-metragem não abandonou suas posições estéticas, que causaram repúdio aos militantes do cinema novo e estranhamento aos adeptos ao cinema clássico.

Mesmo assim, a história, toda filmada no Centro de São Paulo, que a partir daí passa a ser denominada a "Boca do Lixo", atraiu um bom número de espectadores aos cinemas, ajudando a quebrar o "jejum" do público que se afastava dos filmes nacionais devido ao hermetismo do Cinema Novo. Ao lado de outro cineasta e amigo Julio Bressane - diretor entre outros de "O Anjo Nasceu" e "Matou a Família e foi ao Cinema", Sganzerla ajudou a manter viva a noção de "cinema de autor", tão cara aos diretores brasileiros naqueles anos de ditadura.

O cineasta da "luz vermelha" desenvolveu, ao longo de sua carreira, uma verdadeira obsessão pela estada de Orson Welles no Brasil, no início dos anos 40, para as filmagens de "É Tudo Verdade". Sganzerla, a exemplo do diretor de "Cidadão Kane", não admitia intervenções de qualquer ordem em seus filmes. O diretor não se rendeu à lógica do mercado ou à vontade do público, que na maioria dos casos prefere um cinema mais simples e de fácil compreensão.

Seu último filme "O Signo do Caos", vencedor do prêmio de melhor direção em novembro passado no Festival de Cinema de Brasília, não agradou muito à platéia e aí mais uma vez Sganzerla se encontrou com o paradoxo. O mesmo cineasta que em 1968 seduziu o público com "O Bandido" agora de certa maneira o afasta com sua obra mais recente. Mais uma vez volta à cena a visita de Welles e a retenção de material cinematográfico na alfândega. O filme, parte em preto-e-branco, parte colorido foi montado em ordem desconexa, fazendo associações por vezes sutis demais para que possam ser percebidas sem um conhecimento prévio da trajetória do cineasta e da história de Welles.

Sganzerla denominava sua última película como "antifilme", dizendo que a obra era uma defesa do cinema contra "burocratas", ou seja, contra o mercado e a política cinematográfica que continuaram influenciando a produção brasileira, ao longo dos anos. O cineasta, "marginal" por opção, não permitia concessões à sua liberdade estilística.

Foi a relutância e a insistência em continuar com seus preceitos que o afastou gradativamente do mercado, levando-o a se autoclassificar como um "sem-tela". A história do diretor se confunde com a história de Acácio Pereira, o "Bandido", transformado em ficção por ele. Após 30 anos de detenção, Acácio foi libertado e não sabia mais como viver em um país que havia mudado tanto. Queria voltar à cadeia. Sganzerla se "aprisionou" em sua própria visão de cinema e deu cada vez mais um caráter hermético a seus filmes. Contradições à parte, o rebelde que rompeu com o Cinema Novo em busca do público tem seu nome escrito à luz na história da cultura brasileira.

(Gazeta Mercantil/Fim de Semana2)(Márcio Rodrigo)
Amarelaram também....
Muito bem !
Vamos inverter os papéis. Enquanto Helen hoje faz observações lúcidas sobre cinema me atrevo a falar de FUTEBOL.
Direto do continente da "piada pronta"... Beausejeou tirou o sono da selecinha brasileira. A única medalha de conseguiremos jogando desta maneira é a de lata em algum campeonato de várzea... e cuidado que a molecada da periferia é empenhada e é capaz de ganhar deles...
Por favor, alguém pode me explicar o que era Diego em campo ? Ele como jogador de futebol é um ótimo modelo do SP Fashion Week. O rapaz quase que literalmente joga de saltos altos. Desde que ele descobriu que come quem ele quiser - inclusive o Robinho - futebol que é bom não jogou mais.
Sem falar no resto do time que não encontrou nenhum entrosamento nem com a bola, nem entre eles mesmos.... vai entender.....
Dagoberto apelou no primero minuto e agiu o retso do jogo como se estivesse no vestiário, Maxwell deveria se chamar Maxbad, o menino é vesgo não é possível devolver tantas bolas para os pés.. do adversário....e Robinho parecia correr de um lado para o outro procurando o calção do Diego, que ele baixou a semana passada. Fala sério mulecada.....

ABOUT LUIZA (publicada com autorização do autor)

Ly,

Assino embaixo do seu último e-mail, em tudo !!!!
Quanto ao estar ressentido, só não tenho mais paciência para pessoas que querem ser constantemente "pajeadas" e que se colocam em posição de vítimas. Não vivo disto. Luiza se excedeu e sequer pediu desculpas. Acha que na verdade eu é que não lhe dei a devida atenção e não lhe tive a merecida paciência. Não posso ser hipócrita e dizer que a presença dela me faz falta. Foi ótimo conviver com ela mas passou... é isto.Diferente de vocês, que em amior ou menor grau permanecem...ao ponto de agora fundarmos um blog coletivo, experiência aliás que para mim é inédita no universo blogueiro nacional.. hehehehe

Já falei para vocês sobre a "Solidão Contemporãnea" e o fato dos blogs serem a tentativa de se reduzir esta solidão aproximando pessoas com perfis parecidos pela internet ?

Beijos,

Márcio Rodrigo
Mistério

Não entendi. A Folha deu 2 estrelas para "DogVille" daquele insuportável, mas idolatrado, Lars Von Trier, e 3 estrelas para o mega blockbuster "O Último Samurai", que custou U$ 170 milhões.

A "intelectualidade" do jornal está com problemas, não entendi essa atitude subversiva.

Quanto a mim, os dois filmes podem cair no Triângulo das Bermudas e nunca mais serem avistados pela civilização humana.

Helena
ATÉ QUANDO TEREMOS QUE AGUENTAR TANTA MEDIOCRIDADE????

Acabei de chutar um cliente meu. Era uma revista de cosméticos chamada Hera Cosmética que foi criada por uma advogadazinha filhinha de papai que um dia resolveu brincar de editora. Aguentei todo tipo de desmando até que hoje, dia de fechamento da dita cuja, mando a revista pra ela dar o ok final e a tal advogada-editora me liga dizendo que até chorou, que estava triste comigo porque a revista estava muito feia. Como a revista podia estar feia se elas acompanharam toda a produção da revista, o que vem durando as últimas duas semanas? Porque ela não avisou antes? Pra quem não sabe, sou diagramadora.

Eu, depois de ter trabalhado até 5 da manhã, simplesmente disse: "quero meu pagamento hoje, senão eu não fecho sua revista, porque essa é a última que eu faço pra sua editorazinha".

Ninguém merece!

Helena

quinta-feira, janeiro 15, 2004

Teste de post do Márcio por meio da Roberta (sim, o Márcio é um ser que não compreende facilmente as novas tecnologias! E sim, quando ele ler isso, serei uma irmã com menos dentes...risos...)

quarta-feira, janeiro 14, 2004

Uma provocação:

Acabei de assistir ao filme 21 Gramas. Até gostei do filme, apesar de chatice dos vai-e-vem da edição. Acho o Sobre Meninos e Lobos melhor e sem esses modismos já gastos. Para mim, o primeiro é um negativo do segundo sobre muitos aspectos. Mas o Clint fez o gol enquanto o mexicano firulou na área... O assunto rende, assistam e entramos nos detalhes.
abs!
CLUBE DO PICADINHO 2

Confirmado: Picadinho na casa do Márcio domingo agora, dia 18/01, às 16hs. Márcinho, passe o endereço. E talvez o mapa, porque eu sempre me perco....

Helena
REUNIAO DO PICADINHO

Convocação via blog, a pedidos: quando será a próxima, onde será? Se não fizermos estaremos perdendo o sentido original do Clube do Picadinho....

Lyara estará em SP no dia 25. Podíamos fazer nesse dia, na casa do André ou na casa de alguém que se disponha.

Helena
Rio cordial

Depois de vários anos de Dutra já comecei a entender e respeitar um pouco mais o carioca. Mas eles às vezes forçam a barra...

Como se não bastasse o boton, a camiseta "Rio loves you" e as rosas para os gringos que chegam no Aeroporto do Rio, hoje eles mandaram sambista e, é claro, mulatas. Passados anos de colonização e independência, o carioca dá provas de servilismo e da manutenção do mito do brasileiro cordial. Cordial de mais para o meu gosto. Maldito Gilberto Freire!

Por sorte, existem também no Brasil os manos de São Paulo, que deram cana para o piloto engraçadinho que debochou da nossa medida de reciprocidade e fez um "gesto obsceno" ao ser fotografado para o fichamento. Daria tudo para publicar esta foto no iG.

Como sou chefe agora, não pude ir para a coletiva. Mas dei ordens específicas para o repórter perguntar:

- Sr. delegado, o senhor poderia mostrar qual foi o gesto feito pelo comandante?

As melhores matérias estão nos detalhes...
Vou voltar a andar de busão

"O veículo Pálio, cor cinza: placa DDV 7741 SP, do Sr. Darlan Alvarenga, estava parado no semáforo da Rua Tabapuã, na altura no número 1026, no sentido bairro-centro, quando o veículo Peugeot, cor cinza, placa CVS 8884, colidiu na traseira do auto, atirando o mesmo para a frente, atingindo o veículo Pálio, cor cinza, placa TFE 5643, que estava parado na mesma via e local".

Mais raiva do que do imbecil que saiu do consultório do psicanalista sem ter falado tudo que deveria e me atingiu na traseira a 60 km/h - graças ao sinto de segurança não ganhei mais uma cicatriz no rosto - só do monga do policial que demorou duas horas para redigir este simples texto e anotar os meus dados.

Quem nunca foi num batalhão de polícia fazer o registro de ocorrência de um "sinistro" no trânsito, se dê pelo ser mais feliz da face da terra. Como eles fazem tudo "à mão", o policial faz antes um rascunho para não errar e ter que rasurar. É claro que na minha vez, o imbecíl conseguiu errar e fez eu assistir toda a estréia do Big Brother.

Finalmente compreendi a crise da Segurança Pública do Estado quando o policial me disse que tinha acabado o papel do requerimento para buscar o B.O. (sim, ele só fica pronto em três dias. É o tempo necessário para digitalizar) e me deu um papel de pão. Sem se quer um carimbo. Apenas a assinatura do oficial. Cabo Tigre.

O fato de meu pálio ter virado um Classe A e de meu carro dever perder 20% do valor depois do conserto é o de menos. A merda pior é toda a burocracia que terei que enfrentar com o seguro do elemento. Duvido que alguém já tenha ouvido falar na seguradora Mitsui Sumimoto. Como seria bom se fosse perda total de uma vez.

O que são 15 dias tendo que andar de ônibus, justamente no momento que acabo de receber a convocação para cobrir as férios de um dos chefinhos, assumir o comando da pauta, e passar a chegar 10h na redação!

Confesso que estou com saudades do Terminal Capelinha às 8h30. Nada como o odor dos primeiros Avanços e Leites de Rosa para começar o dia!

Quem ainda não comprou um carro, ainda é tempo de desistir. Estou chegando à conclusão que andar de táxi é mais barato. E te permite também beber mais para tentar esquecer os problemas...

terça-feira, janeiro 13, 2004

Oi gente!

Cá estou, graças ao trabalho generoso eficiente do André. Espero estar lendo postagens de todos os participantes em breve. Manifestem-se!
Aproveito minha primeira participação para anunciar que estarei em Sampa por 4 dias - são maravilhosos esses feriados municipais, e o Rio tem aos montes!Vamos marcar um encontro urgente, afinal sou figurinha rara nesse álbum!

segunda-feira, janeiro 12, 2004

Consegui chegar nesse espaço virtual enfim...

Helena
Mercado de Peixe

Cidade neón, trem, Eni, pé queimado, Ubaiano, new-hippies... Quem diria, agora nosso imaginário bauruense possui uma discografia. Tá tudo nas letras e no encarte do CD.

Saí do show do Mercado de Peixe convicto que o pós-caipira vai passar a tocar nas rádios e na MTV em 2004. E não mais só nas festas de Bauru e na cantina da Unesp - local onde, segundo o André, foi feita a primeira apresentação deles. Durante o Viva Campus.

O público deles, por enquanto, continua o mesmo. Vide o bando que baixou na casa do Fabinho. Quem passava pelo corredor estreito, cheio de cabeludos fumando entrava direto no túnel do tempo... Gente que conhecíamos, mas não lembrávamos o nome; bocas já beijadas, outras que não temos certeza; algumas que gostaríamos ter beijado. Mas beijo que é bom, não vi nenhum novo...

Darlan



Missão cumprida

Como vcs podem perceber, o Anderson (??) postou todas as mensagens. Agora todas as divagações, missivas e provocações tornaram-se públicas.

Como o André não me enviou meu código de acesso e como não consegui me cadastrar por fora, usei a senha do Anderson.

Espero que agora diminua quantidade de e-mails na nossa caixa postal.

Darlan
Declínio do Império

Ontem eu assisti O Declínio do Império Americano. Depois de esperar semanas na lista da locadora o filme me chegou às mãos ontem e hj reestreou no cinema... leis de murphy...

A minha dica é: se vc. gostou de Invasões Bárbaras vá assistir e se vc.ainda estava só na intenção, vá ver o Declínio... antes! Os dois filmes são ótimos. Declínio é mais cínico e ácido. Mas tb. tem sua parte sensível. Não posso deixar de pensar em nós ao assistir esse tipo de filme. É emocionante a cena em que um dos personagens diz a todos a sua família são os que ali estão - seus amigos e pq por isso ele não tem medo de envelhecer sozinho. A primeira parte do filme cansa um pouco ainda mais pq somos obrigados e relembrar aquela estética dos anos 80! Mesmo assim a montagem dos diálogos dos dois grupos ( Mulheres X Homens) é ótima. Depois que todos se reúnem na casa o filme cresce e consegue instigar e comover.

Ver o primeiro filme ajudou a entender algumas coisas do segundo, principalmente sobre a relações dos personagens. Vale a pena ver os dois filmes. Eu amei! Gostei mais do Invasões não só por causa das minhas referências pessoais histórias e emocionais mas tb. pq ele alcança um tom levemente melodramático, que não existe em Declínio, chorei no cinema e continuei chorando sentada no bar, depois da sessão. Ontem sozinha em casa não chorei.

São ambos filmes memoráveis!!!!!

Lyara

Odeio jiló

Em caso de jiló ser servido na mesa, respire calmamente, sorria para os donos da casa e corra para o Mc' Donalds mais próximo.

EU ODEIO JILÓ .... ARGHHHHH

Tenho com o sushi a mesma experiência que tens com o jiló... Eu até experimentei mas não tenho palato... uma das última s vezes que tentei foi aí no Rio naquele restuarante da Cobal, em Botafofogo... quase vomitei, lembra ?

Márcio

Eu amo jiló

Jiló frito é o máximo, eu amo!!!! Nem sou fã de comida mineira, que considero um apanhado geral de tudo que há no Brasil de melhor, que foi remexido, renomeado e supervalorizado pelo resto do país - sim, porque os mineiros nem valorizam tanta a própria comida. Na história é fácil provar que eles, superespiritualizados, viam no ato de comer uma "baixeza" e escondiam o prato na gaveta quando estavam comendo e apareciam visitas e ...

Voltando ao jiló, não sou fã de comida mineira, mas o jilozinho frito que se encontra em qualquer quilo de comida mineira é o máximo!!! Adoro, uma delícia. Aliás quem não gostar já avise, porque o dia que o Picadinho for na minha casa vcs correm o risco de comer o dito cujo.

Concordo com o Darlan, vamos fazer um blog!! Todos nós temos repertório de sobra, Darlan. Devemos agradecer esse repertório em grande parte à Unesp, porque, cá entre nós, quando conheço pessoas
que se formaram nas particulares bem, sem preconceitos, é foda. Não tem comparação.

Winck é doutor, não se mexe com ele. Anderson é o rei da argumentação, quando ele entra numa briga é um inferno (imaginem ser casada com ele, ai, ai). Márcio adora citar o tempo todo, tem uma facilidade pra guardar teorias que eu invejo - vou invejar mais durante o mestrado que se aproxima... mas isso são as tais individualidades que citei no mal anterir sobre cinema. Cada um tem as suas. Não quer dizer que não dá pra competir com esses malas. E vc, Darlan, é o filho pródigo da intelectualidade. Tenho certeza de que um dia vc volta.

Helena
Blogueiros da turma, uni-vos!!

Adorei a leitura feita sobre a nossa carnavalização e concordo com a visão
de "nossa grandeza como produtores de audiovisuais e nossa miséria como cinéfilos".

A propósito, vcs leram este texto do financial times publicado na Folha?

Salvação pelo samba
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0601200413.htm

Penso que discussões tão ricas quanto as nossas não deveriam ficar presas
somente ao nosso seleto grupo. Como estou numa fase de propósitos
emprendedores, gostaria de pedir autorização de vcs para criar um blog das
nossas discussões...

Ainda que nem todos nós tenhamos condições de competir com o repertório de Gurgel, Winck e Márcio, nos completamos: o André com suas ironias e
provocações, a Lyara com sua visão globotizada, de quem participa do
processo de produção audiovisual, a Helena como cinéfila apaixonada, o
Fabinho como engenheiro com sentimentos, eu com meus inúmeros
questionamentos e falsas polêmicas a alimentar discussões e o Edson com sua
capacidade de síntese.

O blog também poderia servir de matéria-prima para o futuro best-seller, A
Verdade Tropical do Rekebra, como sugeriu o Márcio...

Já que a Helena sugeriu discurtirmos gastronomina. Que tal discutirmos a rejeição do jiló na gastronomia brasileira. Desafio qualquer um ousar repetir que jiló é ruim após experimentar a iguaria frita!

Darlan
Holywwood X Mundo

O que acho que sempre trava esse tipo de discussão é o ranço do eterno Holywwood X Mundo no cinema. Eles podem não ter inventado o cinema, mas eles criaram o cinema que se vê hoje e do qual, na nossa pretensa intelectualidade, somos reféns. Todos aqui gostam de cinema, em graus variados, defendendo diversos pontos de vista. E todos mesmo negando o cinema americano acabam recebendo seus reflexos. Não é o badalado Lars Von Trier que sempre faz dos seus filmes uma resposta à Hollywood dos efeitos especiais, por exemplo?

Vivemos num maldito mundo globalizado. O cinema que se faz na Argentina é maravilhoso, mas sofre de 15 mil influências diferentes daquela cidadela em Los Angeles. Como não enxergar reminiscências de Frank Capra no maravilhoso "O Filho da Noiva", com sua mensagem humanitária, de valorização da vida? Capra foi o cineasta "Spielberg" de sua época, sempre acreditando no ser humano e fazendo filmes edificantes para o mundo ver.

Não nego aqui as individualidades que tornam cada cinematografia particular e diferente. Almodovar só fez o que fez porque espanhol, porque vive num país onde verbos no Imperativo são de uso freqüente. E o seu cinema é uma das coisas mais sublimes que já tivemos o prazer de assistir.

Só os alemães no Pré-Nazismo para criarem as alegorias macabras de um filme sensacional como "O Gabinete do Doutor Caligari". E só nós, brasileiros, para falarmos de nossas experiências amargas de viver no eterno país do futuro como em "Terra Estrangeira". As individualidades são o grande achado de qualquer obra artística. O que quero dizer é que tudo está ligado no fim das contas.

Acho que muito além de eu ficar aqui defendendo "O Senhor dos Anéis" e o André defendendo "Adeus, Lênin", está na hora de nos abrirmos, parar com esse ranço de "tudo que vem de Holywwod está calcado no imperialismo, atualmente na teoria Bush" ou "tudo que não é feito em Holywwod é mal-feito, com cenários toscos e atores mal-dirigidos". Tem cinema bom pra tudo quanto é lado. É preciso olhar.
Enfim, acho que chega de discussões cinematográficas. Vamos falar de comida, pra variar
um pouco? Ou de música? Música daria discussões espetaculares aqui nessas bandas.

Helena



Leituras transversas

A questão que levantei, no comentário ao texto do Márcio, diz respeito à questão da indústria sim. Refere-se ao processo de fabricação de narrativas, a partir de um molde prévio: apresentação, conflito e resolução, tipicamente ocidental (por conta do modelo do discurso científico: introdução, desenvolvimento e conclusão) e, mais caracteristicamente americanizado, no caso dos happy ends melodramáticos e pedagógicos, típicos do modelo cinematográfico numa cultura imperialista. Convém lembrar que o cinema, enquanto produto cultural, é processo industrial por excelência, embora este fenômeno cultural não necessariamente se desenvolva em culturas industrializadas, como é o caso da Índia. Trata-se, entretanto, de culturas capazes de reprodução em série (sejam objetos, pessoas ou narrativas... risos). Não existe indústria de cinema em culturas incapazes de auto-repetir-se, já observou? O cinema (como fenômeno industrial) é pobre em culturas hipercomplexas, como é o caso latino-americano.

Não se faz cinema sem o pressuposto da cultura como espetáculo de uma classe para as demais.Nossa elite é tímida, mesmo extravagante... Não existe cinema que coexista com modelos sociais antropofágicos, badernados ou híbridos. Esta é uma questão de economia das trocas simbólicas. Sociedades mestiçadas, carnavalizadas no sentido baktiniano, já são cinematográficas per si. Não é à toa que tais sociedades desenvolveram a televisão. Aqui, abaixo do Equador, o modelo narrativo, se for analisado à lupa, é caótico, polifônico,feito às pressas e de viés. Por tudo isso é bem feito enquanto modelo auto-reprodutível. O antagônico do cinema ou, pelo menos, sua antítese mais apurada. Hollywood não deu certo aqui porque somos, desde a origem, imagem imperfeita do criador/colonizador... Ai reside nossa grandeza como produtores de audiovisuais e nossa miséria como cinéfilos...

Da mesma forma o modelo de Shopping Center não deu certo na Bahia, pois são inconcebíveis um tabuleiro de acarajé e uma negra rodando ao cheiro de dendê no topos clean do capitalismo internacional.

Parte 2:

Estamos conversando sobre dois assuntos, embora profundamente imbricados, diferentes. O primeiro refere-se à necessidade cultural de se construir fábulas. A cultura é constituída, também (ou sobretudo) da dimensão do abuloso, do maravilhoso, do transcendente. O virtual nos habita e, para esta dimensão é urgente dispor de meios de representação.

Cada cultura desenvolve os seus, conforme suas capacidades e horizontes. Estas narrativas
são, em sua maioria, pedagógicas, pois nos reconectam à correia de transmissão dos valores culturais. Seus meios de difusão são econômicos - no sentido ético. Esta é uma questão geral, que diz respeito ao
processo civilizatório, verificado nas mais distintas civilizações.

O segundo assunto é o cinema como uma das atualizações desta dimensão geral. Neste sentido, o objeto cinema, quer seja americano ou não, se configura como meio industrial, circunscrito ao seu tempo e espaço. Mesmo aquele cinema mequetrefe, feito ali na esquina, não pode fugir a estas duas
regras gerais. Mesmo o cinema mais experimental, abstrato, de arte, ou como quiser denominar, está submetido à regra da indústria. O motivo da longevidade do cinema não está nele mesmo mas na atualização da necessidade, demasiada humana, de reproduzir, com os meios que dispõe, a
dimensão do maravilhoso. Ene fábulas sobre a virgindade foram construídas. Poucas sobreviveram como a do Chapeuzinho Vermelho, recontada em A secretária do Futuro (risos). Não se trata da descartabilidade mas, ao contrário, dosmeios de reciclagem de estruturas narrativas atávicas.

O esperte, vc sabe muito bem disso, também faz isso como meio derepresentação. Hoje o esporte espetacularizado, produzido em série e difundido em escala não é descartável, não pelo espetáculo,
mas pela necessidade humana de expressar suas lutas...

Da mesm a forma que o esporte é uma arte nele mesmo como manifestação, não porque os cartolas querem ou, ao contrário, fazem dele uma indústria prostituída, o cinema, mesmo o mais abjeto filme B feito apenas para o comércio em locadora, resguarda a dimensão da arte da representação... Mesmo
as mais obtusas manifestações carecem dessa ânima: a reprodução de estruturas narrativas primevas, que nos reconectam aos ancestrais.
Que papo é esse?

João Winck
Cinema como economia

Márcio, a respeito do texto que vc. publicou na Gazeta, a maior prova do êxito alcançado por ele é a variedade de leituras possível. A ver a forma como o Winck leu o artigo. Tenho algumas divergências em relação ao ponto de partida dele e, como acho que o objetivo é justamente compartilhar opiniões, externo a minha visão nas linhas abaixo.

Para mim, o fundamental na questão, diria até na minha forma de ver os objetos da cultura hoje, é o paradigma em que se faz a análise. Na minha opinião, o seu raciocínio e o do Winck estão calcados em uma visão do cinema enquanto INDÚSTRIA. Acho que esse modelo inevitavelmente leva àquilo que criticávamos há alguns dias em outras mensagens: a polarização do hollywoodiano vs. o não-hollywoodiano e, em sentido mais radical, do alienado vs. o conscientizado e até do bem contra o mal. Daqui sai fácil um link para a discussão sobre a superioridade do realismo sobre a fantasia ou vice-versa...

Eu prefiro ver o cinema - como vejo o meu objeto de pesquisa, o futebol - como uma ECONOMIA. O termo aqui vai no sentido de uma organização dos diversos elementos de um todo. Ou seja, para mim interessa mais entender a dinâmica existente entre as redes culturais que permite que um filme de mercado (por que não?) como o Grande Ditador ou Tempos Modernos, pudesse se tornar manifestos contra a guerra e contra o capitalismo, respectivamente. E observe-se: ambos surgiram dentro da
própria "máquina" hollywoodiana. A ver que na mesma época foram feitos uma infinidade de filmes para elogiar a ação dos EUA no conflito...

O mesmo embate pode ser percebido quando vc. fala da Nicole Kidman e do Dogville. Se coubesse a visão estanque de uma industria dentro do fordismo, nunca uma estrela do star system moderno poderia fazer um filme de arte... Ou mesmo um diretor "de arte" como o Afonso Cuaròn, do E Sua Mãe Também, nunca dirigiria um Harry Potter...

Dessa promiscuidade eclesiástica/pagã - deixo para vc. escolher qual é o lado pagão... risos - dá para tirar uma questão maior, ao meu ver, o fato de que o que mudou e que, ao se ver pelo prisma da economia do cinema, fica mais claro é que o próprio cinema americano é também vítima de uma armadilha ainda maior, a globalização. Essa idéia não é minha, é o do Negri e do Hardt no livro Império.

Os autores falam de um processo que vai muito além de globalizar, o que acontece no mundo hoje é a criação de um império global no qual o centro não estaria em parte alguma e ninguém seria a cabeça nem os EUA. A ver o jeca do Bush tendo que descobrir na marra onde fica o Afeganistão...

Acho que Hollywood é um pouco disso... Não dá para dizer que Hollywood é somente blockbuster, porque há uma infinidade de autores tão criativos por lá quanto na Escandinávia. A ver o Spike Jonze e Paul Thomas Anderson. E, graças a Deus, há a dança de cadeiras mágica que permitiu que um Curtis Hanson, que fazia pornochancadas, um dia fizesse LA Confidential... Ou que o Clint Eastwood faça de Dirty Harry a Sobre Meninos e Lobos...

Isso é uma indústria? Creio que não somente. Indústria é você descobrir uma fórmula e repiti-la ad infinitum... Veja Matrix. Veja O Ultimo Samurai ou Pearl Harbor (esses últimos no sentido ruim). Os dois últimos filmes foram calcados na idéia de que somente atores famosos e muito dinheiro e efeitos resolvem. E não resolvem, porque os O ultimo samurai e pearl harbor foram fracassos de bilheteria...

Acho que já escrevi demais, mas para tentar dar uma conclusão para esta salada que montei eu diria que se torna muito complicado falar de pureza de capital e propósito no cinema americano hoje. Quem são os donos dos estúdios? Judeus, japoneses, americanos... De quem é o capital investido nos filmes? Das velhinhas do Kentuck... e os atores? De vários lugares do mundo...

O que o jeca do Bush descobriu ontem - que o mundo é maior que um pretzel - Hollywood sempre soube, porque sempre foi internacional e por isso sempre esteve em mutacão, sobrevivendo a crises e novidades. tanto para um lado quanto para o outro... evoluindo com as inovacoes e regredindo com o mcartismo...

É por isso que eu sempre me pego com o mesmo mal estar quando penso em Telma e Louise. Será um filme feminista ou mais um filme machista com discurso camuflado...

Anderson

Uma longa fila de Homens Mortos

O melhor da história da visita da minha mãe à "Gaiola das Loucas" é que ela me pegou lavando o banheiro, já que chegou uma hora antes do combinado e mais tarde o Big lembrou na frente dela que o meu livro de cabeceira era "Uma longa fila de Homens Mortos".... rs

Mas a brincadeira começou a surtir efeito... vou revirar o baú....

Márcio
Ser apenas nós mesmos

A história do cacto não é segredo para ninguém. O que nem todos sabem é que fiz até poesia sobre o episódio. Mas esta só a Lyara pode publicar. Se for para lembrar histórias, o Márcio poderia lembrar a das noites de crise depois de ser avisado da visita da mami na última semana em Bauru. Preocupadíssimo com a promessa que seríamos apenas nós mesmos...

Darlan
O cacto e o espírito livre

Acho que Darlan e Lyara estão amarelando com a possibilidade de
escancararmos nossas histórias mais sórdidas.... Como por exemplo lembrar o
causo do cacto que rolou a ladeira da Irmã Arminda.... Que bela
metáfora para lembrar o início do amor do jovem cético e insensível pelo
"espírito livre" de Lyara....

Márcio

Ivo Meirelles branco

Nada como chegar em casa e ver essa já tradicional listinha de discussões. Cada vez mais civilizada, diga-se de passagem. Tô até pensando em provocar alguém só pra dar uma apimentada na história...

Mas não. Hoje eu decidi me provocar. Acho que a culpa não foi minha e, se foi, deve ser aquela história de insanidade temporária que a Lorena Bobbit alegou antes de cortar o... (nossa, não gosto nem de pensar nisso).

Ou a culpa foi da maldita cabelereira japonesa. Eu falei pra ela que queria um corte diferente e ela fez uma sugestão. e eu disse sim. e agora eu estou aqui, olhando meu cabelo loiro após uma exagerada dose de luzes (eu bem que podia ter perguntado o que era isso antes).

Bom... todo mundo quer um 2004 iluminado, né? O meu vai ser por um dia, pelo menos, já que amanhã eu vou pintar meu cabelinho de novo pra não ficar com essa cara de Ivo Meirelles branco. (alguém conhece tinta boa???). Se alguém tiver interesse em ver minha versão loirinho, tem 24 horas pra testemunhar.

Futilidades de lado, acho que a gente deveria fazer uma troca de agendas. eu tenho guardado umas coisas que escrevi lá em bauru... (meu pré-blog).

André

Exaustão do modelo

Acho vc escreve bem. Gostei do artigo. A narrativa clássica, expressa pelos americanos,
num primeiro momento promoveu o sonho da sociedade de consumo, gerando modelos ideais de
comportamento a serem "seguidos". Num segundo momento, no apogeu, inverteu a ordem e
promoveu realidades para serem "copiadas" como sendo verdades incontestáveis. Embora
ficcionais, estas verdades têm a força da persuasão das classes médias globalizadas.
Agora, quando se notam sinais de exaustão do modelo narrativo clássico, os capitalistas
procuram desferir o golpe final, "criticando" as falhas (da narrativa e da realidade que
ela insuflou) como se já estivessem ali e ninguém houvesse percebido. O tal do cinema
pretensamente crítico nada mais é do que metanarrativa do sonho americano. A realidade
promovida pelo sonho americano, afinal, é constituída de 2 bilhões de famélicos, que
nunca viram cinema. Almas que padecem sem alma, para manter em pé o delírio da
decadência de qualquer crítica possível.
Durma com esse barulho.

Winck


Hollywood Ending?

Lembram daquele papo que tivemos sobre a "crise existencial" do cinema americano no pós 11 de Setembro? Transformei em matéria.

São Paulo, 30 de Dezembro de 2003 - A máxima do intelectual francês Christian Metz de que no cinema "existe sempre sentido por trás do sentido" foi explorada ao extremo pelos realizadores americanos desde que os Estados Unidos assumiram a supremacia da produção de filmes, no período "entre-guerras", no século passado. Ninguém melhor do que as grandes majories daquele país para usar mensagens subliminares para construir o ideal do sonho americano e vender ao mundo os valores apoiados no consumismo do "american way of life".

Um movimento de estranhamento sutilmente marcou a produção americana em 2003. Não só filmes produzidos no "Império de Bush", mas tendo a potência hegemônica como tema parecem querer revelar algo que nem os próprios cineastas sabem ao certo o que é sobre a nação mais poderosa do planeta. No ano em que a poderosa Warner Bros. concluiu com cifras que ultrapassaram centenas de milhões de dólares as trilogias de "Matrix" e "O Senhor do Anéis" - que possuem todos os elementos que fizeram o sucesso do cinema hollywoodiano por mais de meio século - filmes como "Longe do Paraíso, "As Horas","Dogville" e a comédia "Hollywood Ending", de Wood Allen, mostram a perplexidade do cinema americano não só perante seus próprios filmes, mas também perante sua própria sociedade.

Durante décadas, os Estados Unidos ofereceram ao mundo ocidental - e em muitos casos o oriental também - os valores da classe média americana, herdados da White Anglo Saxon Protestants (WASP) grupo originado com os primeiros imigrantes que colonizaram a América - por meio de seus filmes. Estes valores, norteados pela família, pela moral cristã e pelo conservadorismo, provindo de raízes inglesas, sempre estiveram presentes no cinema mericano e só se acentuaram após a Segunda Guerra, quando ocorreu uma polarização da maneira de se filmar no mundo.

Como indica o intelectual francês Gilles Deleuze, em seu livro "A Imagem-Tempo", "a modernidade cinematográfica encontra suas origens na Europa do pós-guerra, com o neo-realismo italiano". Todos os movimentos cinematográficos surgidos neste período nos países devastados economicamente pela Guerra são marcados por filmagens externas, recusa dos efeitos visuais e de montagem, temas sociais, recurso a atores não profissionais e narrativas "frouxas", ou sem encadeamento entre começo, meio e fim, e ausência de heróis e personagens centrais. Exatamente o extremo oposto do que foi feito e vendido pelo cinema americano como sendo o modelo "do mundo ideal para se viver" e que gerou o termo "cinema hollywoodiano".

Sim, Hollywood produziu sonhos e nunca fez muita questão de esconder isso nem de seus ríticos mais acirrados. Seu cinema foi a maneira que encontraram para se auto-afirmar perante uma nova ordem mundial que nascia. Durante anos, "gêneros" se sucederam e moldaram o olhar e o gosto do público do mundo inteiro. Do western aos musicais e desses às comédias de costume e aos blockbusters de ação, tudo foi regrado e apresentado em um padrão que explicitava a supremacia americana perante o resto do mundo.

Os aos Clinton, essencialmente opulentos economicamente, definidos pelo presidente do Banco Central Americano (FED), Allan Greenspan, como os da "exuberância irracional" pareciam consolidar definitivamente a nação americana como a mais importante do planeta.

Em um mundo em que o socialismo praticamente foi enterrado na década anterior, o capitalismo liberal americano e os valores morais que davam a tônica a sua sociedade de consumo pareciam inatingíveis e inquestionáveis.

Justamente por não enxergar uma explicação clara, no final de 1999, a crítica mundial especializada em cinema, não conseguia localizar os exatos motivos que levaram o inglês, radicado no Estados Unidos, Sam Mendes a produzir o filme "Beleza Americana", tendo no elenco Kevin Space, ator de primeira grandeza do "star system" dos grandes estúdios.

A história "desconstrói" o universo dos subúrbios abastados e aparentemente perfeitos das cidades americanas, denunciando a beleza "quase insuportável" do cotidiano. O próprio nome de filme é uma menção a um tipo de rosas vermelhas, sem cheiro e espinhos, as "american beauty", "largamente cultivadas nos jardins das residências em que se passa a história. Era difícil aos próprios americanos entender uma crítica que atacava o "american way of life" justamente em um momento em que o modelo parecia ter atingido seu ápice.

A controversa eleição do conservador republicano George W. Bush e o posterior atentado às torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, parecem ter colocado em xeque a confiança do povo americano em si mesmo. O país que parecia inabalável e inatingível, de repente se viu vulnerável. Os reflexos mais diretos desta crise se apresentaram diretamente na desaceleração econômica que tomou conta dos Estados Unidos durante 2002 e boa parte deste ano.

Se no plano econômico a nova era de incertezas se refletiu no PIB, no plano cultural a crise chegou de maneira sutil nas histórias contadas no cinema. Claro que Hollywood não abandonou seu padrão de produção e roteiros com estruturas narrativas clássicas que sempre identificaram seu cinema. Os filmes americanos continuam parecendo filmes americanos, sendo capazes, mesmo em tempo de incertezas, de satirizar qualquer tipo de podução que fuja a suas regras de filmagem, como fez Wood Allen com "Hollywood Ending", que no Brasil estreou com o curioso título de "Dirigindo no Escuro".

A diferença é que o movimento que se desenvolve agora quer questionar o que ocorre com os valores "vendidos" ao mundo pela nação mais poderosa do mundo não para mudá-los, mas sim para reiterá-los e corrigi-los a fim de que continuem mantendo a hegemonia quase que total perante os espectadores. Como ensina Lucino Visconti, cineasta italiano, no clássico "O Leopardo", de 1963, "É preciso que as coisas mudem para que se mantenham como estão.

Os filmes agraciados com o Oscar em 2003 deram uma indicação clara de que embora os americanos permitissem questionamento, não estavam muito dispostos a verdadeiras mudanças em seu 'way of life". A escolha do musical "Chicago" na categoria "Melhor Filme" comprova essa recusa de encarar a nova imagem trincada que insiste em pairar no imaginário dos americanos. O filme, embora se passe em 1929, ano do Crash da Bolsa de Valores de Nova York e dos problemas com a Lei Seca e os gangsters, não faz nenhuma menção histórica aos temas. Tudo em "Chicago" é apenas entretenimento, luxo e sonho.

No caminho oposto, "Gangues de Nova York", de Martin Scorsese, que retrata a sangrenta formação da ilha de Manhattan, em Nova York, apesar das 10 indicações que teve ao Oscar, não levou nenhuma estatueta. O filme é escuro, feio e sujo e coloca em papel degradantes estrelas como Leonardo DiCaprio e Cameron Diaz. "Gangues..." ficou quase um ano na "geladeira" até ser lançado em janeiro deste ano. Para o azar de Scorsese, a película havia ficado pronta logo após os atentados de 11 de setembro. A poeira das torres já havia maculado demais a "Big Apple" para que o filme lançasse mais "lama" sobre a imagem símbolo do capitalismo financeiro.

Se "Gangues..." não foi bem-visto pela Academia, o mesmo não se pode dizer sobre "As Horas", de Stephen Daldry. Tomando como ponto de partida o livro 'Mrs Dalloway", da escritora inglesa Virginia Woolf, interpretada por Nicole Kidman, que ganhou o Oscar de Melhor Atriz, o filme retrata um dia na vida da escritora em 1923, e de duas mulheres americanas, uma na década de 50 e outra em 2001.

Mais uma vez, o subúrbio luxuoso a tranqüilo serve de cenário para que Julianne Moore, a personagem dos anos 50, desvele a falsa noção de "família feliz" que Hollywood construiu em seus filmes e inúmeros países reproduziram, seja em "comerciais de margarina" ou em romances açucarados de novelas latinas. Sua personagem foge, deixando marido e filho para não se suicidar. Para ela, o peso do sonho americano era insuportável. O contraponto de sua atitude reverberará décadas mais tarde, quando as histórias de Moore Meryl Streep se cruzam em 2001, explicando a importância da obra de Virginia Woolf
para o filme.

Se Julianne Moore se libertou em "As Horas", colocando em crise a "imagem feliz da família americana", "Longe do Paraíso", de Todd Haynes, é um espetáculo de fotografia e direção de arte apenas para mostrar que mesmo se tratando de cinema hollywoodiano as aparências podem enganar e muito. "Dame" Moore tem uma vida feliz e pacata, como a típica dona de casa americana, bem-casada e com filhos, até que descobre a homossexualidade de seu marido.

Para complicar, desenvolve uma paixão platônica por seu jardineiro que é negro, em uma sociedade marcada pelo racismo. O interessante de "Longe do Paraíso" é que ele oscila entre o desconcertante e o delicado, mostrando os inúmeros guetos que a sociedade cria para poder perpetuar seus preconceitos.

Nada porém foi mais desconcertante para mostrar a "discreta" crise existencial da sociedade americana por meio da película do que dois filmes que concorreram ao "Festival de Cannes" deste ano. Toda a sutileza que a ala hollywoodiana teve para mostrar a "desconstrução" do "american way of life" foi esquecida por cineastas como o americano Gus Van Sant e o dinamarquês Lars Von Trier. "Elephant", que levou a "Palma de Ouro", inspira-se no incidente ocorrido na cidade americana de Colombine, quando dois jovens abriram fogo contra colegas e professores e depois se mataram, para contar sua história.

O tema também tratado pelo documentário "Tiros em Colombine", do americano Michael Moore, é segundo Van Sant, seu ponto de vista sobre sua própria vida nos Estados Unidos. Claro que o resultado de mexer em uma das feridas americanas em um momento em que a França era contra a invasão do Iraque fez do filme de Van Sant o favorito à Palma. A geopolítica também afeta o
cinema.

Nesse movimento de questionamento, xeque e desconstrução dos valores americanos pelas produções cinematográficas nada foi mais contundente do que "Dogville", de Von Trier, que tem Nicole Kidman, atualmente a mais badalada diva do cinema hollywoodiano, como protagonista. O filme é o primeiro da trilogia "América - País das Possibilidades", que segundo declarou o diretor dinamarquês, "é uma campanha para libertar a América". O filme foi um dos favoritos em Cannes e deve chegar ao Brasil - se a estréia não for adiada mais uma vez - em janeiro.

A história, toda filmada sobre um chão negro, marcado por giz, que delimitam ruas, casas e jardins, acontece durante a Grande Depressão, que invadiu os anos 30, fazendo um contraponto à realidade musical e atemporal de "Chicago". A personagem de Kidman chega à "cidade de giz" fugindo da perseguição de gangsters. Acolhida pela população é gradativamente escravizada, abusada e punida, até ser delatada aos contraventores da "Lei Seca".

Tanto no tratamento estético, como no desenvolvimento da narrativa, "Dogville" é exatamente o oposto do que são os filmes hollywoodianos. Von Trier, que nunca esteve nos Estados Unidos, realiza um cinema sem concessões. É um filme indigesto sobre uma América impalatável aos que se acostumaram a sonhar com o glamour hollywoodiano.

A "fábrica de sonhos" que sempre vendeu fantasias exemplares sentiu e refletiu, de maneira sutil, os medos e as crises que assolaram o imaginário da sociedade americana nos últimos dois anos. Os filmes finais de "Matrix" e "O Senhor dos Anéis", cinema hollywoodiano em seu estado mais puro, embora tenham dado lucro, parecem não ter reverberado tudo o que deveriam pelo mundo. "Matrix Revolutions" conseguiu desapontar até os fãs mais exacerbados da série. É cedo ainda para se especular sobre "O Senhor dos Anéis". Hollywood torce os dedos para que o filme se torne uma unanimidade no gosto do
público, devolvendo todo o poder de conquistar corações e mentes de maneira irrestrita
que o velho cinema americano sempre teve desde de seus primórdios.

Márcio
Helana Gollum

Eu já tentei queimar essa agenda há muito tempo, mas esse caderninho tem um fascínio que não permite ser destruído... Uma coisa tipo o UM Anel da Helana Gollum...

Anderson

Helena, não deixe que nossa biografia seja escrita pelos nossos netos. Coloque essa agenda na roda! Até mesmo porque depois pode ser tarde para fazermos os desmentidos.

Darlan


Macarrão com salsicha

Graças ao bom Deus o André não estava só de cueca....

Lembro como se fosse hoje: uma puta chuva, eu e a Dani fomos com o Anderson depois da aula da Sônia Gatinha conhecer a Rekebra. Chegamos e eu conheci André Amaral que comia o tal miojo em frente a TV, exatamente da maneira que vc descreveu....

Depois Anderson histérico tentava se desculpar que a casa estava um caos, a pintura da perede do quarto dele caindo... e nós duas rindo, achando tudo esquisito. Depois almoçamos um macarrão com salsicha (claro) e fomos embora, andando e conversando na chuva.

Fiquei saudosista depois da tal agenda.....

Helena
Cueca

Eu estava comendo um pão de queijo e quase engasguei. Que hilário. Até imaginei a cena, o André com a tigelinha em cima da barriga, fazendo um movimento lento, levando o garfo até a boca, com a TV ligada... Sófiquei com uma dúvida, nessa cena medonha, o André estava só de cueca?

Lembro que depois, um dia, resolvemos tirar o outro pé do sofá, pois concluimos que era mais fácil do que tentar recolocar o outro. O resto da história, todos já sabem.

Edson

10 anos

No dia 18/04 vai fazer 10 anos que eu entrei na Rekebra pela primeira vez e vi o André comendo miojo naquele sofá torto. Só isso merece um chopp. Como eu sei isso? Tenho uma super agenda de 94, ultra secreta em que andei dando uma olhada ontem.... Cada coisa que eu lembrei......

Helena

Adeus Lenin

Helena falou tudo quando disse que a gente dá prioridade para aquilo que ama. Não é a toa que eu vi o Cães de Aluguel umas cinco vezes este ano, devorei os livros da Clara Averbuck como se fossem a melhor coisa do mundo, vi Adeus Lenin duas vezes e quero ver a terceira sexta-feira, e troco qualquer filme espanhol, iraniano ou hollywoodiano por um jogo do santástico com robinho e diego... (aliás, helena, vou te dar de presente o dvd do as brumas de avalon que eu tenho! achei um porre aquilo.)

André

Bush e loosers

A idéia do André de morar em república já foi descartada pela maioria, mas confesso que eu gostaria de tentar. Quem sabe um dia moramos todos num condomínio fechado, cada um na sua casa. Seria uma sociedade alternativa às avessas. É isso mesmo, não somos nada alternativos. Mas iríamos subverter o mainstream.

Ah, só voltando à vaca fria, outra do meu professor de inglês, que tem a ver com a interpretação da luta entre as forças do bem e do mal emSenhor do Anéis. Seguinte: ele disse que nos Estados Unidos, inclusive nessa era Bushinho (Bushão é o pai), não é a luta entre o bem e o mal que conta, tipo os americanos são o bem e os Saddan é o mal.

O que conta para os gringos é a dicotomia vencedores e perdedores. "Lá no Nordeste, a pior ofensa que você pode fazer a um homem, é chamá-lo de corno. Nos Estados Unidos e chamá-lo de looser", disse o meu teacher. Então, todo o cinemão americano é sobre esse medo de perder, ser um looser. E, se entre o bem e o mal existem graduações, entre vencedor e perdedor não existe. Se você não venceu, não é o segundo colocado, é o perdedor mesmo (acho que foi até o Piquet que disse isso). E o mal até pode vencer o bem, mas o perdedor não pode vencer, senão ele se torna o mocinho. Tipo o Darth Vader, ele era o típico looser. O Saruman também, é o típico looser. Ou vilões, se preferirem. Mas se eles vencessem, o espectador americano típico se identificaria na hora com eles. E passaria até a ter preconceito do Luke Skywalker e do Aragorn.

Edson

I'm out, darling. Vcs queimariam meus DVDs e livros do Harry Potter e do Senhhor dos Anéis, meus DVDs do Arquivo X...nem pensar - pra me vingar eu podia queimar o poster do "Lúcia e
o Sexo" do Darlan, aquele filminho...

Helena

No meio desse debate todo, me deu vontade de morar em república de novo. Alguém topa?

André
Ou toca, ou não toca

Juro que estou tentando acompanhar, mas pedir demissão significou ter menos tempo do que antes. tenho tanto a dizer sobre essa discussão toda, isso porque atentamente só li os primeiros e-mails. depois talvez, agora só referências, que acho se encaixam, de quem constantemente me salva:

"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca."

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: Quero é uma verdade inventada."

"Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento." (Clarisse Linspector)

Fábio
A gente prioriza o que ama

Darlan e André, diegese = termo criado por Platão para designar o "pseudo mundo" criado pela ficção. Todo espaço e tempo formado por uma obra não real (seja lá o que seja o real) -e diegético para Platão. Termo intelectualoide para justificar títulos acadêmicos...

André, vi o filme "Albergue Espanhol" É ótimo mas quando penso no que vivemos no Albergue Rekebriano o filme se torna bem pálido de novas experiências, mesmo se passando em Barcelona. E "Adeus Lênin" é ímpar. Aquela cena da estátua voando e ela no meio da rua é a melhor do cinema
para mim em 2003.... Diz muito sobre o embate intelectual travado por vocês nos e-mails.

Helen, é tua a frase síntese do ano : "A gente prioriza o que ama" !!!!

Concordo plenamente !
O que fazer com o tempo

Darlan, você diz que não entende porque os fãs de Senhor dos Anéis, Harry Potter, etc não se contentem em ver os filmes, mas precisem de livros, jogos, peças.... Na hora que li isso lembrei de vc falando que se lamentava por não ter uma grande paixão desse tipo, uma obsessão. Por isso vc não entende. Eu
sou naturalmente dada a esses arroubos pois quando gosto de algo, gosto mesmo.

Não preciso dos bonequinhos do Senhor dos Anéis, mas preciso de todos os livros e de todos os DVDs. E preciso ver e rever os filmes no cinema. Sou assim com E.R., com Harry Potter, com Gilberto Freyre, com as minhas revistas e meus livros de receitas que não me canso de olhar, com As Brumas de Avalon ad infinitum.

Mas sobre Tolkien especificamente, o universo dele cala fundo na minha alma. Quando vejo a frase que o Anderson citou "só nos resta decidir o que fazer com o tempo que nos é dado", choro (chorei vendo a versão estendida) porque esse é meu grande dilema: o que fazer com o meu tempo nesse mundo
horrível em que vivemos.

E Darlan, "A Última Noite" é o filme do ano. Lindo, maravilhoso, impressionante, tocante. Quem não viu, veja rápido. "Sobre Meninos e Lobos" é execelente também, eu adoro o Sean Penn. E começo a admirar o Clint Eastwood.

Márcio, o conceito de clássico rende várias teses. E ele independe do marketing de um filme. O cinema é uma "caixinha de surpresas". Um filme pode render milhões na bilheteria e nem assim ser clássico; um filme, como meu odiado "Braveheart" pode ganhar 5 oscars e nunca ser um clássico. Mas um filme como "Noviça Rebelde" pode ter um estrondosa campanha de marketing (acreditem, na época ela existiu), ganhar 9 oscars e ser um clássico.

O conceito "clássico" tem muito a ver com a qualidade da obra, mas mais com a importância daquilo na história do cinema. Os Harry Potter nunca, jamais, serão clássicos. São filmes lindos, muito bem produzidos, mas não têm estofo para isso - e olha que sou fâ de carteirinha. Matrix 1 já é clássico, mudou todo o cinema de ficção da década de 90, isso é um ponto inegável - e eu nem sou fã. Os demais matrix cairão no profundo limbo, lugar que merecem.

Quando um filme é bom, ele se destaca. Vcs não têm idéia da minha surpresa ao pegar aquela chatice chamada MAIS ontem e ver que estavam elogiando horrores "O retorno do rei". Esse aval nem eu esperava (se eles falassem mais, eu poderia é ficar com a pulga atrás da orelha...).

Concordo plenamente com a definição de "não vejo filmes de países sem saneamento básico", citada por uma amiga minha do Valor que era doente por blockbusters. Eu não vejo mesmo. Mas isso não quer dizer que só goste de filmes americanos. Bergman é uma das minhas grandes paixões, Fellini outra. O cinema argentino me emociona, o espanhol me surpreende e até o brasileiro que, confesso, tenho minhas ranhetices me dá ótimas experiências como Madame Satã e Lisbela, que eu adorei.

André Amaral, eu sei que não foi provocação. Mas eu não comecei a ver cinema latino por suas incitações, pode acreditar. Os filmes que vc citou eu não vi logo que estrearam por uma razão simples: falta de tempo. "Ah, mas pra ver O Senhor dos Anéis ela tem tempo pra ver 4 vezes, o que dá mais de 12 horas de cinema." A gente prioriza o que a gente ama.

Helena

Não há volta possível

Agradeço pelos comentários de todos. Como são muitos pontos interessantes que eu gostaria de comentar, vou me fixar em um, abaixo, do Darlan.

"Tenho minhas dúvidas que exista mais complexidade e riqueza na discussão do bem e mal, e da condição humana no Senhor dos Anéis, do que em filmes como Sobre Meninos e Lobos ou em A Última Noite."

Nunca chegaremos a lugar algum na discussão sobre o que é mais complexo. Uma galáxia pode estar em um colar pendurado em um cachorro, certo? Provavelmente a procura pela complexidade máxima no macro ou no micro vai dar no mesmo.

Na discussão acalorada sobre mitos (as aulas de filosofia em bauru eram à tarde) sempre me ficou muito claro que os mitos não eram verdades tampoco mentiras. Aao somente uma outra forma de ler o mundo. Como se metade da população fosse daltônica e não enxergasse vermelho... Não adiantaria dizer que o vinho tinto era tinto, ele seria de outra cor...

Acho que os dois filmes que vc. cita como referências deste ano são bons exemplos disso. Gosto dos dois, com predileção para o do Spike Lee. Acho que, quando ele descobriu a poesia que a fúria pode conter, ele se tornou um diretor melhor. Quer coisa melhor que a ironia - no sentido romântico do termo - que ele usa para engajar os negros em o A Hora do Show? O clipe de cenas com negros sendo humilhados no fim do filme é um estouro. de deixar o clipe dos beijos do cinema paradiso no chinelo...

Em a Última Noite, acho que ele consegue isso também, justamente no final, quando o filme se abre para a poesia - para a fantasia -, quando ele projeta o que o personagem principal poderia ser se não fosse preso, se fugisse. No exercício imaginativo, ele levanta a hipótese de uma nova conquista do Oeste, mas ela já não é mais possível. As decisões que se toma não permitem voltas. A escolha pelo tráfico de drogas não permitiria reviver a conquista do Oeste. É uma forma brilhante de dizer e olhar o mal que os EUA fazem ao mundo. Eles nunca mais se livrarão disso, não há como se redimir, começar de novo... O fantasma das torres sempre estará lá.

A fantasia travestida de realidade também está em O Retorno do Rei. Não há volta possível. Quem assistir, verá o que acontece com Frodo ao fim da história. Não há volta, a experiência que temos fica com a gente para sempre. Frodo nunca mais será o mesmo. Nem Sean Penn, depois da revelação.

Ainda sobre Tolkien, a impossibilidade do resgate do mundo, já esta sentenciado no primeiro filme, na primeira fala. Aliás, a melhor seqüência inicial explicativa da história do cinema. Quando a Cate Blancet diz: "O mundo está mudando, eu sinto no ar..." Acho que as pessoas pensam que irão ver uma saga, mas acho que elas estão começando a ver as narrativas míticas do fim de uma era...

A questão na trilogia do Tolkien não é o bem e o mal, mas como aproveitamos o tempo que nos é dado. Ai, alguns vão optar pelo bem e outros, pelo mal... O maior poder de um mito são as suas várias leituras e interpretações. Imaginar o mundo na quarta era, depois dos anéis e dos elfos, pode ser tão interessante quanto imaginar o que Humprey Bogart foi fazer depois que se despediu de Ingrid Bergman no aeroporto Ou o dia seguinte de Scarlet...

É só imaginar.

Anderson

Diegético

Eu me habilito para o simplesmente amor com o Márcio! (é o fim... eu largo namorada
para ver filme do hugh grant com um gay...) E quero ver Irreversível.

Vamos, Márcio! Aí você aproveita e me explica o que é apuro diegético!!!!!! Procurei diegético na segunda edição revista e ampliada do aurélio da nova cultural e não achei!!!!

André