terça-feira, janeiro 27, 2004

Nem sempre dois e dois são quatro


Blockbusters nunca ganharam Oscar de melhor filme, muito menos de direção. Steven Spielberg, o inventor dos arrasa-quarteirões com "Tubarão", em 1977, teve que fazer um filme chatérrimo e adulto (A Lista de Schindler) para agradar à preconceituosíssima Academia de Artes Cinematográficas de Los Angeles e ganhar o seu sonhado Oscar de Melhor Diretor e Melhor filme. Filmes estupendos do mesmo diretor como "Os Caçadores da Arca Perdida" e "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" concorreram a essas duas categorias, mas foram solenemente ignorados. "Star Wars" mudou o cinema de ficção, mas sequer foi indicado.

Se no dia 29 de fevereiro a Academia premiar "O Senhor dos Anéis" será muito mais do que aceitar o marketing de um "arrasa-quarteirão". Será a quebra de um tabu. Porque a academia prefere filmes edificantes com pessoas doentes, de preferência, a bons filmes, de fato.

E se "O Senhor dos Anéis" ganhar, será a vitória de um estúdio que era pequeno (a New Line), que teve a coragem de apostar num projeto que ninguém mais queria bancar em Hollywood porque era insano. será a premiação de 7 anos de trabalho integral de um diretor. Será a vitória de um filme rodado inteiramente na Nova Zelândia. Será a vitória de um estúdio de efeitos especiais, a WETTA FILMs, que teve a coragem de peitar George Lucas e dizer "não precisamos de vc". E a vitória de um elenco que dedicou 2 anos de suas carreiras a filmar essas 9 horas de filme.

Sim, será também uma vitória do marketing, do poder do dinheiro, do blockbuster que sustenta a indústria do cinema. Mas quem mais além do marketing, do poder da MIRAMAX (que faz os lobbys mais agressivos possíveis na briga pelo Oscar) levou um filme brasileiro (apesar de muito bom filme) de 2002 a concorrer a 4 estatuetas?

No fundo a Academia é tão preconceituosa quanto os críticos de cinema que a criticam. Vamos ver se ela terá coragem de se contradizer. Apesar de fã, de defender "O Senhor dos Anéis" por suas qualidades até a morte, sou quase capaz de apostar em "Mystic River" como melhor filme - apostaria totalmente se o final do filme nao fosse tão subversivo. Disso a Academia também não gosta.

Mas, se o "O Senhor dos Anéis" não ganhar, pouco importa. O filme é um clássico sim, o tempo dirá. Os críticos combateram ferozmente "Blade Runner" e agora dizem amém para o filme. Combateram "Matrix" e até a intelectualidade vem se voltando agora para o filme, depois que ele mudou toda a estética da ficção cientifica. Assim é a vida.



helena

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