segunda-feira, janeiro 12, 2004

Não há volta possível

Agradeço pelos comentários de todos. Como são muitos pontos interessantes que eu gostaria de comentar, vou me fixar em um, abaixo, do Darlan.

"Tenho minhas dúvidas que exista mais complexidade e riqueza na discussão do bem e mal, e da condição humana no Senhor dos Anéis, do que em filmes como Sobre Meninos e Lobos ou em A Última Noite."

Nunca chegaremos a lugar algum na discussão sobre o que é mais complexo. Uma galáxia pode estar em um colar pendurado em um cachorro, certo? Provavelmente a procura pela complexidade máxima no macro ou no micro vai dar no mesmo.

Na discussão acalorada sobre mitos (as aulas de filosofia em bauru eram à tarde) sempre me ficou muito claro que os mitos não eram verdades tampoco mentiras. Aao somente uma outra forma de ler o mundo. Como se metade da população fosse daltônica e não enxergasse vermelho... Não adiantaria dizer que o vinho tinto era tinto, ele seria de outra cor...

Acho que os dois filmes que vc. cita como referências deste ano são bons exemplos disso. Gosto dos dois, com predileção para o do Spike Lee. Acho que, quando ele descobriu a poesia que a fúria pode conter, ele se tornou um diretor melhor. Quer coisa melhor que a ironia - no sentido romântico do termo - que ele usa para engajar os negros em o A Hora do Show? O clipe de cenas com negros sendo humilhados no fim do filme é um estouro. de deixar o clipe dos beijos do cinema paradiso no chinelo...

Em a Última Noite, acho que ele consegue isso também, justamente no final, quando o filme se abre para a poesia - para a fantasia -, quando ele projeta o que o personagem principal poderia ser se não fosse preso, se fugisse. No exercício imaginativo, ele levanta a hipótese de uma nova conquista do Oeste, mas ela já não é mais possível. As decisões que se toma não permitem voltas. A escolha pelo tráfico de drogas não permitiria reviver a conquista do Oeste. É uma forma brilhante de dizer e olhar o mal que os EUA fazem ao mundo. Eles nunca mais se livrarão disso, não há como se redimir, começar de novo... O fantasma das torres sempre estará lá.

A fantasia travestida de realidade também está em O Retorno do Rei. Não há volta possível. Quem assistir, verá o que acontece com Frodo ao fim da história. Não há volta, a experiência que temos fica com a gente para sempre. Frodo nunca mais será o mesmo. Nem Sean Penn, depois da revelação.

Ainda sobre Tolkien, a impossibilidade do resgate do mundo, já esta sentenciado no primeiro filme, na primeira fala. Aliás, a melhor seqüência inicial explicativa da história do cinema. Quando a Cate Blancet diz: "O mundo está mudando, eu sinto no ar..." Acho que as pessoas pensam que irão ver uma saga, mas acho que elas estão começando a ver as narrativas míticas do fim de uma era...

A questão na trilogia do Tolkien não é o bem e o mal, mas como aproveitamos o tempo que nos é dado. Ai, alguns vão optar pelo bem e outros, pelo mal... O maior poder de um mito são as suas várias leituras e interpretações. Imaginar o mundo na quarta era, depois dos anéis e dos elfos, pode ser tão interessante quanto imaginar o que Humprey Bogart foi fazer depois que se despediu de Ingrid Bergman no aeroporto Ou o dia seguinte de Scarlet...

É só imaginar.

Anderson

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