Cinema como economia
Márcio, a respeito do texto que vc. publicou na Gazeta, a maior prova do êxito alcançado por ele é a variedade de leituras possível. A ver a forma como o Winck leu o artigo. Tenho algumas divergências em relação ao ponto de partida dele e, como acho que o objetivo é justamente compartilhar opiniões, externo a minha visão nas linhas abaixo.
Para mim, o fundamental na questão, diria até na minha forma de ver os objetos da cultura hoje, é o paradigma em que se faz a análise. Na minha opinião, o seu raciocínio e o do Winck estão calcados em uma visão do cinema enquanto INDÚSTRIA. Acho que esse modelo inevitavelmente leva àquilo que criticávamos há alguns dias em outras mensagens: a polarização do hollywoodiano vs. o não-hollywoodiano e, em sentido mais radical, do alienado vs. o conscientizado e até do bem contra o mal. Daqui sai fácil um link para a discussão sobre a superioridade do realismo sobre a fantasia ou vice-versa...
Eu prefiro ver o cinema - como vejo o meu objeto de pesquisa, o futebol - como uma ECONOMIA. O termo aqui vai no sentido de uma organização dos diversos elementos de um todo. Ou seja, para mim interessa mais entender a dinâmica existente entre as redes culturais que permite que um filme de mercado (por que não?) como o Grande Ditador ou Tempos Modernos, pudesse se tornar manifestos contra a guerra e contra o capitalismo, respectivamente. E observe-se: ambos surgiram dentro da
própria "máquina" hollywoodiana. A ver que na mesma época foram feitos uma infinidade de filmes para elogiar a ação dos EUA no conflito...
O mesmo embate pode ser percebido quando vc. fala da Nicole Kidman e do Dogville. Se coubesse a visão estanque de uma industria dentro do fordismo, nunca uma estrela do star system moderno poderia fazer um filme de arte... Ou mesmo um diretor "de arte" como o Afonso Cuaròn, do E Sua Mãe Também, nunca dirigiria um Harry Potter...
Dessa promiscuidade eclesiástica/pagã - deixo para vc. escolher qual é o lado pagão... risos - dá para tirar uma questão maior, ao meu ver, o fato de que o que mudou e que, ao se ver pelo prisma da economia do cinema, fica mais claro é que o próprio cinema americano é também vítima de uma armadilha ainda maior, a globalização. Essa idéia não é minha, é o do Negri e do Hardt no livro Império.
Os autores falam de um processo que vai muito além de globalizar, o que acontece no mundo hoje é a criação de um império global no qual o centro não estaria em parte alguma e ninguém seria a cabeça nem os EUA. A ver o jeca do Bush tendo que descobrir na marra onde fica o Afeganistão...
Acho que Hollywood é um pouco disso... Não dá para dizer que Hollywood é somente blockbuster, porque há uma infinidade de autores tão criativos por lá quanto na Escandinávia. A ver o Spike Jonze e Paul Thomas Anderson. E, graças a Deus, há a dança de cadeiras mágica que permitiu que um Curtis Hanson, que fazia pornochancadas, um dia fizesse LA Confidential... Ou que o Clint Eastwood faça de Dirty Harry a Sobre Meninos e Lobos...
Isso é uma indústria? Creio que não somente. Indústria é você descobrir uma fórmula e repiti-la ad infinitum... Veja Matrix. Veja O Ultimo Samurai ou Pearl Harbor (esses últimos no sentido ruim). Os dois últimos filmes foram calcados na idéia de que somente atores famosos e muito dinheiro e efeitos resolvem. E não resolvem, porque os O ultimo samurai e pearl harbor foram fracassos de bilheteria...
Acho que já escrevi demais, mas para tentar dar uma conclusão para esta salada que montei eu diria que se torna muito complicado falar de pureza de capital e propósito no cinema americano hoje. Quem são os donos dos estúdios? Judeus, japoneses, americanos... De quem é o capital investido nos filmes? Das velhinhas do Kentuck... e os atores? De vários lugares do mundo...
O que o jeca do Bush descobriu ontem - que o mundo é maior que um pretzel - Hollywood sempre soube, porque sempre foi internacional e por isso sempre esteve em mutacão, sobrevivendo a crises e novidades. tanto para um lado quanto para o outro... evoluindo com as inovacoes e regredindo com o mcartismo...
É por isso que eu sempre me pego com o mesmo mal estar quando penso em Telma e Louise. Será um filme feminista ou mais um filme machista com discurso camuflado...
Anderson
Márcio, a respeito do texto que vc. publicou na Gazeta, a maior prova do êxito alcançado por ele é a variedade de leituras possível. A ver a forma como o Winck leu o artigo. Tenho algumas divergências em relação ao ponto de partida dele e, como acho que o objetivo é justamente compartilhar opiniões, externo a minha visão nas linhas abaixo.
Para mim, o fundamental na questão, diria até na minha forma de ver os objetos da cultura hoje, é o paradigma em que se faz a análise. Na minha opinião, o seu raciocínio e o do Winck estão calcados em uma visão do cinema enquanto INDÚSTRIA. Acho que esse modelo inevitavelmente leva àquilo que criticávamos há alguns dias em outras mensagens: a polarização do hollywoodiano vs. o não-hollywoodiano e, em sentido mais radical, do alienado vs. o conscientizado e até do bem contra o mal. Daqui sai fácil um link para a discussão sobre a superioridade do realismo sobre a fantasia ou vice-versa...
Eu prefiro ver o cinema - como vejo o meu objeto de pesquisa, o futebol - como uma ECONOMIA. O termo aqui vai no sentido de uma organização dos diversos elementos de um todo. Ou seja, para mim interessa mais entender a dinâmica existente entre as redes culturais que permite que um filme de mercado (por que não?) como o Grande Ditador ou Tempos Modernos, pudesse se tornar manifestos contra a guerra e contra o capitalismo, respectivamente. E observe-se: ambos surgiram dentro da
própria "máquina" hollywoodiana. A ver que na mesma época foram feitos uma infinidade de filmes para elogiar a ação dos EUA no conflito...
O mesmo embate pode ser percebido quando vc. fala da Nicole Kidman e do Dogville. Se coubesse a visão estanque de uma industria dentro do fordismo, nunca uma estrela do star system moderno poderia fazer um filme de arte... Ou mesmo um diretor "de arte" como o Afonso Cuaròn, do E Sua Mãe Também, nunca dirigiria um Harry Potter...
Dessa promiscuidade eclesiástica/pagã - deixo para vc. escolher qual é o lado pagão... risos - dá para tirar uma questão maior, ao meu ver, o fato de que o que mudou e que, ao se ver pelo prisma da economia do cinema, fica mais claro é que o próprio cinema americano é também vítima de uma armadilha ainda maior, a globalização. Essa idéia não é minha, é o do Negri e do Hardt no livro Império.
Os autores falam de um processo que vai muito além de globalizar, o que acontece no mundo hoje é a criação de um império global no qual o centro não estaria em parte alguma e ninguém seria a cabeça nem os EUA. A ver o jeca do Bush tendo que descobrir na marra onde fica o Afeganistão...
Acho que Hollywood é um pouco disso... Não dá para dizer que Hollywood é somente blockbuster, porque há uma infinidade de autores tão criativos por lá quanto na Escandinávia. A ver o Spike Jonze e Paul Thomas Anderson. E, graças a Deus, há a dança de cadeiras mágica que permitiu que um Curtis Hanson, que fazia pornochancadas, um dia fizesse LA Confidential... Ou que o Clint Eastwood faça de Dirty Harry a Sobre Meninos e Lobos...
Isso é uma indústria? Creio que não somente. Indústria é você descobrir uma fórmula e repiti-la ad infinitum... Veja Matrix. Veja O Ultimo Samurai ou Pearl Harbor (esses últimos no sentido ruim). Os dois últimos filmes foram calcados na idéia de que somente atores famosos e muito dinheiro e efeitos resolvem. E não resolvem, porque os O ultimo samurai e pearl harbor foram fracassos de bilheteria...
Acho que já escrevi demais, mas para tentar dar uma conclusão para esta salada que montei eu diria que se torna muito complicado falar de pureza de capital e propósito no cinema americano hoje. Quem são os donos dos estúdios? Judeus, japoneses, americanos... De quem é o capital investido nos filmes? Das velhinhas do Kentuck... e os atores? De vários lugares do mundo...
O que o jeca do Bush descobriu ontem - que o mundo é maior que um pretzel - Hollywood sempre soube, porque sempre foi internacional e por isso sempre esteve em mutacão, sobrevivendo a crises e novidades. tanto para um lado quanto para o outro... evoluindo com as inovacoes e regredindo com o mcartismo...
É por isso que eu sempre me pego com o mesmo mal estar quando penso em Telma e Louise. Será um filme feminista ou mais um filme machista com discurso camuflado...
Anderson
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