"A gente sempre destrói aquilo que mais ama
em campo aberto, ou numa emboscada;
alguns com a leveza do carinho
outros com a dureza da palavra;
os covardes destroem com um beijo,
os valentes com a espada."
(Oscar Wilde, "Balada do Cárcere de Reading".)
Confesso: li os versos acima pela primeira vez na introdução de "Brida", de Paulo Coelho nos distantes idos do início dos anos 90. Se não me lembro mais sobre o que falava o livro do afamado escritor, nunca consegui esquecer o texto de Wilde.
O poema me tocou mais fundo ainda quando assisti há dois anos a montagem de "Di Profundis" no Espaço dos Satyrus, na velha Praça Rooselvet em São Paulo. (Creio que o próprio Wilde teria adorado poder dar voltas noturnas atrás da igreja da Consolação).
Na peça, sobre o caso e desfecho trágico do amor entre o escritor britânico e o nobre "Boosie", um rapaz de 17 anos, o que mais me marcou foi o sentimento que levou Wilde a escrever: não, ele não estava desabafando a traição de Boosie, ou reclamando o tratamento recebido por ele pela Justiça inglesa que praticamente destruiu sua vida. Tudo que lhe doía era o fato de Boosie não ter ido nunca visitá-lo na prisão ou nunca ter lhe escrito uma única linha, enquanto Wilde, desesperado enviava poemas ao rapaz quase todos os dias...
Ao chegar ao cemitério Pére Lachaise, um dos primeiros lugares que visitei em Paris, fiz questão absoluta de ir o túmulo do dândi britânico. Aliás, aquela era a única sepultura de um famoso, naquela necrópole onde só estão enterrados cânones da cultura mundial, que quis realmente localizar. (Creio que foi solidariedade entre dândis o motivo de minha visita...sim, podem dizer que estou insuportável...é previsível)
Entre mausoléus acinzentados e antigos, muitos deles construídos no início do século XIX quando o cemitério foi inaugurado, encontro a tumbe de Sir Wilde. Para minha surpresa, sua última casa é toda recoberta de marcas de batom e declarações de amor e admiração incondicionais. Muitas delas em português, inclusive
Dois dias depois, ao tentar embarcar para Londres num trem da Eurostar compreendi enfim porque o escritor foi enterrado em solo francês. A Lei inglesa por vezes é por demais severa e cega com os dândis alternativos....
De qualquer maneira se o presente destruiu o autor inglês, o futuro se encarregou de transformá-lo num ídolo. Digo ídolo, palavra tão usada nos dias de hoje, porque gênio o rapaz sempre foi. O tempo é senhor da razão e se algo que ele possa fazer é nos ajudar a perdoar o que quer que tenha ocorrido. As marcas de batom são provas irrefutáveis disto. Alguém se lembra do nome do juiz que condenou Wilde???
Claro que não. Mas ele permaneceu. Não na posteridade, esse lugar distante de difícil acesso ao qual homens como ele não querem chegar. Mas no imaginário e por que não dizer corações, das pessoas que certamente lhe despertariam a atenção durante a sua terrible tour pela vida ordinária...
em campo aberto, ou numa emboscada;
alguns com a leveza do carinho
outros com a dureza da palavra;
os covardes destroem com um beijo,
os valentes com a espada."
(Oscar Wilde, "Balada do Cárcere de Reading".)
Confesso: li os versos acima pela primeira vez na introdução de "Brida", de Paulo Coelho nos distantes idos do início dos anos 90. Se não me lembro mais sobre o que falava o livro do afamado escritor, nunca consegui esquecer o texto de Wilde.
O poema me tocou mais fundo ainda quando assisti há dois anos a montagem de "Di Profundis" no Espaço dos Satyrus, na velha Praça Rooselvet em São Paulo. (Creio que o próprio Wilde teria adorado poder dar voltas noturnas atrás da igreja da Consolação).
Na peça, sobre o caso e desfecho trágico do amor entre o escritor britânico e o nobre "Boosie", um rapaz de 17 anos, o que mais me marcou foi o sentimento que levou Wilde a escrever: não, ele não estava desabafando a traição de Boosie, ou reclamando o tratamento recebido por ele pela Justiça inglesa que praticamente destruiu sua vida. Tudo que lhe doía era o fato de Boosie não ter ido nunca visitá-lo na prisão ou nunca ter lhe escrito uma única linha, enquanto Wilde, desesperado enviava poemas ao rapaz quase todos os dias...
Ao chegar ao cemitério Pére Lachaise, um dos primeiros lugares que visitei em Paris, fiz questão absoluta de ir o túmulo do dândi britânico. Aliás, aquela era a única sepultura de um famoso, naquela necrópole onde só estão enterrados cânones da cultura mundial, que quis realmente localizar. (Creio que foi solidariedade entre dândis o motivo de minha visita...sim, podem dizer que estou insuportável...é previsível)
Entre mausoléus acinzentados e antigos, muitos deles construídos no início do século XIX quando o cemitério foi inaugurado, encontro a tumbe de Sir Wilde. Para minha surpresa, sua última casa é toda recoberta de marcas de batom e declarações de amor e admiração incondicionais. Muitas delas em português, inclusive
Dois dias depois, ao tentar embarcar para Londres num trem da Eurostar compreendi enfim porque o escritor foi enterrado em solo francês. A Lei inglesa por vezes é por demais severa e cega com os dândis alternativos....
De qualquer maneira se o presente destruiu o autor inglês, o futuro se encarregou de transformá-lo num ídolo. Digo ídolo, palavra tão usada nos dias de hoje, porque gênio o rapaz sempre foi. O tempo é senhor da razão e se algo que ele possa fazer é nos ajudar a perdoar o que quer que tenha ocorrido. As marcas de batom são provas irrefutáveis disto. Alguém se lembra do nome do juiz que condenou Wilde???
Claro que não. Mas ele permaneceu. Não na posteridade, esse lugar distante de difícil acesso ao qual homens como ele não querem chegar. Mas no imaginário e por que não dizer corações, das pessoas que certamente lhe despertariam a atenção durante a sua terrible tour pela vida ordinária...