A primeira samurai de Tarantino
Sobre o filme novo de Tarantino, escrevi este artigo na estréia !
São Paulo, 23 de Abril de 2004 - H á um excesso de Tarantino em "Kill Bill: Volume 1", novo filme de Quentin Tarantino, que estréia hoje no Brasil com 100 cópias, e é justamente isso que torna o filme ótimo. Sim, é tautologia pura, apenas para confirmar que o diretor americano, que estourou na direção cinematográfica com o surpreendente "Cães de Aluguel", em 1992, não perdeu a genialidade de sua verve.
O filme, que estreou nos Estados Unidos em outubro passado, foi dividido em duas partes por sugestão de Harvey Weinstein, o todo poderoso CEO da Miramax, produtora da obra, que não quis cortar nenhum fotograma da montagem de Tarantino. Essa porém, não foi a única prova do prestígio do diretor na poderosa major americana. Estava tudo preparado para dar início à produção quando Uma Thurman, atriz declaradamente predileta do cineasta, anunciou que estava grávida. Em vez de escolher outra atriz, procedimento habitual na indústria cinematográfica americana em uma situação como essa, o diretor conseguiu convencer os estúdios a esperarem que Uma pudesse voltar à ativa, o que só aconteceria quase um ano mais tarde, em março de 2002.O adiamento valeu a pena. Não só Uma, que já havia sido dirigida por Tarantino em "Pulp Fiction", de 1994, em atuação que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, mas todo o elenco escolhido a dedo pelo cineasta, estão em perfeita atuação no longa, que é uma homenagem confessa aos filmes de samurai japoneses, de artes marciais chineses e aos bangue-bangues à italiana, com imagens captadas entre Tóquio, Pequim e Pasadena, cidade californiana.Enquanto a atriz interpreta "A Noiva", ex-integrante do "Esquadrão Assassino Víboras Mortais", verdadeiro grupo "terrorista" formado exclusivamente por mulheres comandadas pelo personagem-título do filme, Bill, que no Volume 1 aparece muito pouco na tela, e foi entregue a David Carradine, astro americano, que na década de 70 protagonizou a série de TV "Kung Fu", criada originalmente por ninguém menos que Bruce Lee, maior estrela de filmes do gênero.
A adolescência e boa parte da juventude de Tarantino, passadas em South Bay, ao sul de Los Angeles, foram determinantes para que o diretor desenvolvesse o argumento de sua nova obra. Os dias trabalhando em uma locadora de vídeo, divididos com as sessões de "grind houses", cinemas decadentes, que exibiam filmes já há muito lançados nos grandes circuitos, foram a inspiração para o novo roteiro do diretor.
Tarantino une músicas herdadas dos bangue-bangues, com enquadramentos e planos também inspirados neste gênero, para contar a vingança de Uma Thurman contra suas antigas companheiras de "trabalho" e Bill, que tentaram assassiná-la grávida, no ensaio de seu casamento. Após quatro anos em coma, "Mamba Negra", antigo codinome de Uma no esquadrão, acorda e vai em busca de seus antigos algozes. O argumento, claro, é no mínimo rocambolesco e bastante "manjado", mas a maneira como o filme é conduzido não.
Na contramão do politicamente correto, que há mais de uma década impregnou o cinema americano, Tarantino "espetaculariza a violência" até o limite de quase transformá-la em pastiche. A seqüência final do filme, que dura 20 longos minutos, na qual "Mamba Negra" luta com os membros da Yakuza, máfia japonesa comandada por O-Ren Ishi - interpretada por Lucy Liu, uma das "víboras" que a anti-heroína quer destruir - pode ser entendida como uma legítima paródia à cena de Matrix Reloaded, em que Neo briga contra centenas de clones do agente Smith. O combate beira o surreal e se torna ainda mais irônico se levarmos em conta que Liu, ao protagonizar as duas seqüências de "As Panteras", em 2001 e 2003, defendeu a não-inclusão de armas de fogo e cenas "sangrentas" nos trillers. Em "Kill Bill" a espada de Samurai, especialmente forjada para Uma pelo mestre Hattori Hanzo, personagem de Sonny Chiba, "ressucitado" por Tarantino dos antigos filmes de artes marciais japoneses, rasga os inimigos e quase a tela, promovendo um banho de sangue nas cores bastante fortes que marcam o filme.
Tarantino interrompe o Volume 1 no momento exato, deixando no espectador o gosto de "quero mais". O "gancho" que deixa para a continuação da história é tão perfeito que a estréia de Kill Bill: Volume 2, nos Estados Unidos no fim de semana passado vendeu US$ 25,6 milhões em ingressos, nos três primeiros dias de exibição, quebrando um novo recorde para a Miramax. O público brasileiro terá que ser mais paciente. Para nós, o fim da "saga" só chega por aqui em outubro.
(Fim de Semana5)(Márcio Rodrigo)
Sobre o filme novo de Tarantino, escrevi este artigo na estréia !
São Paulo, 23 de Abril de 2004 - H á um excesso de Tarantino em "Kill Bill: Volume 1", novo filme de Quentin Tarantino, que estréia hoje no Brasil com 100 cópias, e é justamente isso que torna o filme ótimo. Sim, é tautologia pura, apenas para confirmar que o diretor americano, que estourou na direção cinematográfica com o surpreendente "Cães de Aluguel", em 1992, não perdeu a genialidade de sua verve.
O filme, que estreou nos Estados Unidos em outubro passado, foi dividido em duas partes por sugestão de Harvey Weinstein, o todo poderoso CEO da Miramax, produtora da obra, que não quis cortar nenhum fotograma da montagem de Tarantino. Essa porém, não foi a única prova do prestígio do diretor na poderosa major americana. Estava tudo preparado para dar início à produção quando Uma Thurman, atriz declaradamente predileta do cineasta, anunciou que estava grávida. Em vez de escolher outra atriz, procedimento habitual na indústria cinematográfica americana em uma situação como essa, o diretor conseguiu convencer os estúdios a esperarem que Uma pudesse voltar à ativa, o que só aconteceria quase um ano mais tarde, em março de 2002.O adiamento valeu a pena. Não só Uma, que já havia sido dirigida por Tarantino em "Pulp Fiction", de 1994, em atuação que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, mas todo o elenco escolhido a dedo pelo cineasta, estão em perfeita atuação no longa, que é uma homenagem confessa aos filmes de samurai japoneses, de artes marciais chineses e aos bangue-bangues à italiana, com imagens captadas entre Tóquio, Pequim e Pasadena, cidade californiana.Enquanto a atriz interpreta "A Noiva", ex-integrante do "Esquadrão Assassino Víboras Mortais", verdadeiro grupo "terrorista" formado exclusivamente por mulheres comandadas pelo personagem-título do filme, Bill, que no Volume 1 aparece muito pouco na tela, e foi entregue a David Carradine, astro americano, que na década de 70 protagonizou a série de TV "Kung Fu", criada originalmente por ninguém menos que Bruce Lee, maior estrela de filmes do gênero.
A adolescência e boa parte da juventude de Tarantino, passadas em South Bay, ao sul de Los Angeles, foram determinantes para que o diretor desenvolvesse o argumento de sua nova obra. Os dias trabalhando em uma locadora de vídeo, divididos com as sessões de "grind houses", cinemas decadentes, que exibiam filmes já há muito lançados nos grandes circuitos, foram a inspiração para o novo roteiro do diretor.
Tarantino une músicas herdadas dos bangue-bangues, com enquadramentos e planos também inspirados neste gênero, para contar a vingança de Uma Thurman contra suas antigas companheiras de "trabalho" e Bill, que tentaram assassiná-la grávida, no ensaio de seu casamento. Após quatro anos em coma, "Mamba Negra", antigo codinome de Uma no esquadrão, acorda e vai em busca de seus antigos algozes. O argumento, claro, é no mínimo rocambolesco e bastante "manjado", mas a maneira como o filme é conduzido não.
Na contramão do politicamente correto, que há mais de uma década impregnou o cinema americano, Tarantino "espetaculariza a violência" até o limite de quase transformá-la em pastiche. A seqüência final do filme, que dura 20 longos minutos, na qual "Mamba Negra" luta com os membros da Yakuza, máfia japonesa comandada por O-Ren Ishi - interpretada por Lucy Liu, uma das "víboras" que a anti-heroína quer destruir - pode ser entendida como uma legítima paródia à cena de Matrix Reloaded, em que Neo briga contra centenas de clones do agente Smith. O combate beira o surreal e se torna ainda mais irônico se levarmos em conta que Liu, ao protagonizar as duas seqüências de "As Panteras", em 2001 e 2003, defendeu a não-inclusão de armas de fogo e cenas "sangrentas" nos trillers. Em "Kill Bill" a espada de Samurai, especialmente forjada para Uma pelo mestre Hattori Hanzo, personagem de Sonny Chiba, "ressucitado" por Tarantino dos antigos filmes de artes marciais japoneses, rasga os inimigos e quase a tela, promovendo um banho de sangue nas cores bastante fortes que marcam o filme.
Tarantino interrompe o Volume 1 no momento exato, deixando no espectador o gosto de "quero mais". O "gancho" que deixa para a continuação da história é tão perfeito que a estréia de Kill Bill: Volume 2, nos Estados Unidos no fim de semana passado vendeu US$ 25,6 milhões em ingressos, nos três primeiros dias de exibição, quebrando um novo recorde para a Miramax. O público brasileiro terá que ser mais paciente. Para nós, o fim da "saga" só chega por aqui em outubro.
(Fim de Semana5)(Márcio Rodrigo)
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