sexta-feira, maio 07, 2004

(já que o Darlan pediu, vai a minha versão...)

O FIM DE FRIENDS NA VERSÃO À PICADINHO

Passaram-se muitos anos...

Graças a um vírus - desses replicantes que invadem a caixa de e-mail - que tem como principal característica resgatar endereços eletrônicos antigos e informações há muito não consultadas, um grupo de amigos que não se via desde o aparecimento do último e derradeiro Ciclone, foi novamente reconectado.

Por meio de mensagens fragmentadas e desconectas, cada um deles foi se lembrando da existência do outro e, por consequência, dos motivos que levaram ao distanciamento de tamanha amizade...

Em comum acordo e como forma de alimentar a nova moda de reviver os idos anos noventa com todas as suas breguices embutidas como rodízios de sushi, blogs, revisionismos e teses de semiótica, eles resolveram pagar para ver, em mico virtual - é claro!

O cenário do encontro foi um local ermo, escuro e sem definição. Tipo Dogville (aliás, outra coisa trash dos idos "enta"). A cidadezinha do encontro, pequena como a expectiva de todos eles, se limitava a um galpão vazio delimitado por marcas de giz.

Resgatados à luz, eis que eles surgem no cenário, um típico não-não-lugar com a presença de tudo que de fato dá sentido à vida. Iluminados, os picadinhos novamente se olham e se redescobrem.

No extremo leste do não-não-lugar, vemos um homem alto finalmente completo, realizado na sua busca. Antes do ciclone, havia decidido largar tudo e dedicar-se aos trabalhos humanitários na europa envelhecida e sem ninguem para pagea-la. Feliz, vê filminhos romanticos e beberica vinho, rodeado de velhinhos. O homem alto sorri.

Mais próximos, um casal há muito formado antes do grande ciclone, cuidam de uma grande área urbanizada, caótica, sobrevivente à intempérie histórica. São prefeitos de uma antiga cidade maravilhosa pós-funk-fuck. Rodeados pelo povo do lugar, eles organizam mais um carnaval na atual Rocinha da Guanabara.

Um homem-executivo calcula possibilidades no seu lugar, ao centro. Depois do ciclone, ele teve muito trabalho para reconstruir tudo o que significa. Se tiver tempo, planeja aproveitar a demanda, construir em modernas estruturas metálicas aquele imenso vazio. Se tiver tempo, depois de intensa procura e muitas lugares e pessoas, ele já conseguia dormir e se sentia bem-acompanhado. Se tiver tempo...

Não tão distante dali, vemos um daqueles que eram chamados descendentes. Ele cuida de uma enorme chácara e sorri enquanto fuma. Há bichos e muitos barulhos no local...

Um pouco ao norte do cenário, um homem grisalho, magro e elegante, desfila por ruelas de outra cidade poupada pelo ciclone. Ele anda a passos rápidos, olha para tudo e dá um sorriso atropelado. Atrás um séquito de efebos e pretty babies carregam livros e discursos. Ele alcançou muito e ainda quer mais.

Um pouco mais ao norte, um sol profundo toma conta de tudo. Uma mulher rodeada de gatos tantos que já não tem mais nome para se extrair da antiga bíblia seguida por ela faz doces e reinventa licores frutados. Está feliz e já não mais ouve os fados do passado nos seus ouvidos. Os gatos de todas as cores correm apressados porque ouvem o barulho de alguém chegar, vindo da praia que mais ama...

A luz se apaga e todos adormecem nos seus grandes sonhos. Melhor assim, expostos ao sol, os sonhos murcham como uma planta mal cuidada.

A conclusão: todos atualizam os anti-vírus para não haver mais riscos de tamanho enfado. Naquela altura a hora outra já enterrou a moda do revisionismo.



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