segunda-feira, julho 10, 2006

Amigos,

compartilho com vocês o texto que escrevi para a Gazeta Mercantil e que também coloquei no Mestres da Copa www.mestresdacopa.zip.net.

Agora, voltamos à vida normal... Ufa!

Abs saudosos,
Anderson
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Eficiência italiana em tempo de crise

Anderson Gurgel

Com o término da Copa da Alemanha, uma nova estrela brilha, é a quarta da Itália. Se o Brasil é pentacampeão mundial isolado, a Itália conquista agora o seu tetracampeonato, distanciando-se também dos demais campeões mundiais. De forma mágica, característica típica do futebol, a seleção italiana retomou um momento parado no tempo e resgatou o sonho do título, da mesma forma que o perdeu há 12 anos, nos Estados Unidos. Naquela ocasião, a seleção brasileira ganhou da italiana nos pênaltis, após a perda de um pênalti por Roberto Baggio. Ontem, na última cobrança, o jogador Grosso cumpriu seu papel e entrou para a história.

A vitória italiana sobre a França, depois de 90 minutos com um empate em 1 a 1, adia o sonho do bicampeonato da equipe capitaneada pelo genial e esquentado Zinedine Zidane. O craque, que foi um dos grandes nomes desse Mundial, chamuscou o encerramento de sua carreira, ao agredir um jogador italiano e ao ser expulso nos trinta minutos complementares. Se não fosse o ocorrido, o resultado poderia ter sido outro, já que a equipe vice-campeã mostrava mais combatividade no jogo.

De qualquer forma, o resultado final, depois de 64 jogos, com a vitória italiana e epílogo amargo de um gênio, como é Zidane, coroa uma Copa do Mundo de muitas prorrogações, definições por pênaltis e resultados magros. No mundo globalizado do início do século XXI, um dos maiores ícones é o futebol-espetáculo, mas os jogos se tornam cada vez menos espetaculares. Resolvido em detalhes, em jogadas de bolas paradas.

De forma surpreendente, o futebol retoma uma velha lição: se o esporte mais amado do mundo se aproxima cada vez mais dos negócios, do sério, por outro lado, o resultado desse mundial gera um grande deslocamento desse “mundo real”. Quem poderia prever, antes da competição, que o grupo italiano, que saiu do seu país no meio de um escândalo sobre manipulação dos jogos, poderia alcançar tamanho feito?

A Copa da Alemanha, o auge da intersecção do mundo dos negócios com o mundo do lúdico, descola o jogo do campo do outro jogado nos gabinetes de empresas, entidades e tribunais. E, com isso, premia até jogadores que, ao voltar ao seu país terão de explicar o envolvimento no escândalo de corrupção esportiva. A expectativa é que, após toda a comemoração, os italianos dêem outro show e façam justiça, punindo todos os que de ser punidos.

Vendo o resultado do Mundial sobre uma perspectiva ainda maior, o saldo final dessa 18ª Copa do Mundo é que, entre ganhadores e perdedores, todos aprenderam grandes lições. E terão muitos desafios pela frente, na continuidade do trabalho tanto no campo esportivo quanto dos negócios. Um exemplo disso é que, além da Itália, a Alemanha também comemora muito o fim da competição. Graças ao povo germânico, a Copa do Mundo foi um show.

Dos estádios à infra-estrutura, passando pelo turismo e pelo entretenimento, esse Mundial vai ficar marcado pelo profissionalismo e pelo entusiasmo. Os investimentos feitos na competição foram enormes, somente nos espetaculares estádios foram aplicados 1,4 bilhões de euros. Outros bilhões foram injetados em uma série de outras frentes econômicas, aumentando o turismo naquele país. Entre os legados que os anfitriões esperam alcançar está a conquista de um lugar entre os cinco maiores destinos turísticos mundiais. Isso significaria um crescimento de 7% no fluxo atual, chegando aos 25 bilhões de euros.

A Copa do Mundo de 2006 eterniza-se também como a mais midiática de todas. Na prática, foi um verdadeiro “big brother”, mostrando os jogos por ângulos nunca antes vistos, como até cenas dos vestiários antes da competição. Como resultado, ainda preliminar, essa Copa já bate recordes de audiência global, com um aumento de mais de 20% no interesse dos telespectadores. E, com isso, as estimativas apontam que a edição alemã pode alcançar uma audiência acumulada de mais de 44 bilhões de pessoas em todo o mundo, extrapolando em 9% o resultado da edição anterior. Além da TV, jornais, rádios, Internet e celular geraram um superexposição de jogos e jogadores como nunca antes visto.

Talvez isso tudo ajude a entender um pouco melhor o fiasco da seleção brasileira. Superfavorita antes da competição, a equipe formada por alguns dos maiores craques do futebol no mundo não teve um minuto de sossego. Tudo o que aconteceu da pré-temporada até a queda vergonhosa para a França, nas quartas-de-final era midiatizável. Do sobrepeso do jogador Ronaldo às brigas entre membros da equipe, das namoradas dos atletas ao tipo de comida que eles ingeriam, tudo foi tema de reportagens. Contraditoriamente, a superexposição da equipe canarinho não ajudou a entender o fiasco que foi a sua participação no mundial. Taí um desafio para os estudiosos do jornalismo: para onde caminha a cobertura esportiva?

O término da Copa da Alemanha, por fim, não tirará o futebol do grande centro de interesse das mídias e dos torcedores, por conseqüência. Para o Brasil, tão próximo da Itália quanto da França, culturalmente falando, a Copa da Alemanha deixa uma lição sobre a importância da necessidade do planejar todos os cenários, da importância da liderança e do espírito de equipe. Não soubemos lidar com esses fatores, e fomos taxados de “a grande decepção do Mundial”. Contudo, se começarmos esse trabalho agora dá para “sobrar em campo” novamente muito antes de 2010 e conquistar, no continente africano, o sonhado hexacampeonato. Enquanto isso, vale comer uma pizza e comemorar com os italianos, a vitória em campo, pois fora dele o futebol campeão do mundo vai ter muito que explicar nos próximos dias.

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